Crítica do Franco Paladino ao
Pacto Áureo
O “PACTO ÁUREO” E A UNIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO.
No dia 5 de outubro de 1949, portanto há cinquenta e
oito anos, houve, na sede da Federação Espírita (Roustainguista)
Brasileira, no Rio de Janeiro, “uma reunião entre os seus diretores e
vários representantes de Federações e Uniões de âmbito estadual”.
Conforme foi registrado na ata dessa reunião, que foi
presidida pelo Sr. Antonio Wantuil de Freitas, Presidente da FEB, foi
aprovado um documento com dezoito ítens, sendo que, no primeiro consta o
seguinte: “Cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição
contida no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de
maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”. No segundo ítem,
ficou decidido que a FEB criará um Conselho Federativo Nacional
permanente, com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os
planos da sua atual Organização Federativa”, cabendo a cada Sociedade de
âmbito estadual indicar um membro de sua diretoria para fazer parte
desse Conselho (ítem 3)
Os interessados em conhecer, na íntegra, todo o teor
da ata dessa reunião, bem como saber, quais foram os seus integrantes,
podem recorrer ao “Reformador”, edição de fevereiro de 1997.
NOSSO COMENTÁRIO
Na verdade, o que foi aprovado foi um
“acordo”, cujo responsável principal foi o Sr. Arthur Lins de
Vasconcelos Lopes, que lhe deu a denominação de “Pacto Áureo”.
O que houve, na verdade, foi um conchavo, e não uma
assembléia geral, adrede convocada para deliberar sobre o assunto em
pauta. Por isso mesmo, muitos confrades ilustres, não só fizeram sérias
críticas a esse documento como o repudiaram abertamente.
E foi, justamente, o primeiro item o
causador da desaprovação. Isto porque nesse livro de Humberto de Campos
(Espírito), psicografado por Chico Xavier, prefaciado por Emmanuel
(Padre jesuíta Manoel da Nóbrega), publicado pela FEB roustainguista,
está escrito que Roustaing foi “coadjutor” de Allan Kardec, encarregado
de “organizar o trabalho da fé” (pág. 176 da 11ª edição), o que
constitui uma grande e deslavada mentira.
Conforme declarou o confrade Abstal Loureiro (já desencarnado), “a
partir daquele ano de 1949, (em que foi aprovado o chamado Pacto Áureo),
paradoxalmente, dividiu-se mais ainda o movimento espírita em nosso
país, principalmente no Rio de Janeiro, pois os que discordaram, ou não
se submeteram à imposição de tal pacto, passaram a ser considerados inimigos da casa (isto é, da FEB roustainguista) a que recusaram vassalagem”.
(Ver “Jornal Espírita” de São Paulo/SP, edição de março de 1985, pág. 3).
Todavia, os atuais membros do Conselho Federativo Nacional, que se reúnem, anualmente, com o Presidente da FEB, coniventes com o erro apontado
por grandes vultos do Espiritismo, como Herculano Pires, Henrique
Andrade, Júlio Abreu Filho, Ricardo Machado, e muitos outros, continuam
submissos ao poder central, do qual são simples vassalos.
Faço questão de dizer que meu querido e saudoso pai,
Severino de Freitas Prestes Filho, ao tomar conhecimento, pela imprensa
espírita, desse documento, foi também um dos que discordaram e
protestaram veementemente. E isto ele deixou bem claro em nossas
reuniões familiares, nas quais lia para nós os artigos desses valentes
confrades defensores do verdadeiro Espiritismo.
Francisco Cândido Xavier, o Chico, que os modernos
fariseus e novos doutores da lei afirmam ter sido a reencarnação de
Allan Kardec, manteve-se calado como um humilde vassalo da FEB
roustainguista.
O Franco Paladino
ASSIM FALOU ALLAN KARDEC
(Sobre a publicação de obras espíritas)
“Quem quer que possua uma noção do
Espiritismo, por superficial que seja, sabe que o mundo invisível é
composto de todos aqueles que deixaram na Terra o envoltório visível.
Despojando-se do homem carnal, nem todos se revestiram, por isso mesmo,
da túnica dos anjos.
“Há Espíritos de todos os graus de conhecimento e de
ignorância, de moralidade e de imoralidade – eis o que não podemos
perder de vista.
“Não esqueçamos que, entre os Espíritos, no espaço, assim como entre os homens, na Terra, há seres levianos,
(grifo nosso) desatentos e brincalhões; falsos sábios, vãos e
orgulhosos, de um saber incompleto; hipócritas, malévolos, e, o que nos
parecia inexplicável, se não conhecêssemos a fisiologia desse mundo, há
sensuais, vilões e crapulosos, que se arrastam na lama. Ao lado disto,
tal como ocorre na Terra, temos também seres bons, humanos,
benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes ...
“... Desde que esses seres (invisíveis) têm um meio patente de
se comunicar com os homens (pela mediunidade), suas comunicações
devem ser um reflexo de seus sentimentos, de suas qualidades ou de seus
vícios (...) Revelam-se por sua própria linguagem. Daí a
necessidade de não se aceitar cegamente tudo quanto vem do mundo oculto;
a necessidade de se submeter tudo a um controle severo. (grifo nosso)
“... Ao lado das comunicações francamente más, que chocam a
qualquer ouvido um pouco delicado, outras há que são triviais e
ridículas...
“... o mal está em apresentar seriamente coisas que são notórios absurdos. (grifo
nosso) Alguns mesmo podem ver uma profanação no papel ridículo que
emprestamos a certas personagens justamente veneradas, e às quais
atribuímos uma linguagem indigna. As pessoas que estudaram a fundo a
ciência espírita sabem qual é a atitude que convém a esse respeito.
Sabem que os Espíritos zombeteiros não têm o menor escrúpulo de se enfeitar com nomes respeitáveis. Mas sabem também que esses Espíritos só abusam daqueles que gostam de se deixar abusar... (grifo nosso)
“... há comunicações que podem prejudicar essencialmente a causa que querem defender. (grifo nosso)...
... os Espíritos vão aonde acham simpatia e onde sabem que serão ouvidos. (grifo de Kardec). As
comunicações (...) simplesmente falsas, absurdas e ridículas, só podem
emanar de Espíritos inferiores; o simples bom senso o indica. Esses
Espíritos fazem o que fazem os homens que se vêm complacentemente escutados; ligam-se àqueles que admiram as suas tolices, e, muitas vezes, se apoderam deles e os dominam a ponto de os fascinar e subjugar (...) O único e verdadeiro meio ( que temos ) de os afastar é provar-lhes
que não nos deixamos enganar, rejeitando, impiedosamente, como apócrifo
e suspeito, tudo aquilo que não for racional, tudo aquilo que desmentir
a superioridade que se atribui ao Espírito que se manifesta e de cujo
nome ele se serve. (Grifo nosso) Então, quando vê que perde o seu tempo, afasta-se.
“Julgamos ter respondido suficientemente à pergunta de um nosso
correspondente sobre a conveniência e a oportunidade de certas
publicações espíritas. Publicar, sem exame, , ou sem correção, tudo
quanto vem dessa fonte, seria, em nossa opinião, dar prova de pouco
discernimento. Esta é a nossa opinião pessoal, que apresentamos à
apreciação daqueles que (...) podem julgar com imparcialidade, pondo de
lado qualquer consideração individual. Como todo mundo, temos o direito
de dizer a nossa maneira de pensar sobre a ciência que é objeto dos
nossos estudos, e de tratá-la à nossa maneira, não pretendendo impor
nossas idéias a quem quer que seja, nem apresentá-las como leis. Os que
partilham da nossa maneira de ver é porque crêem, como nós, estar com a
verdade. O futuro mostrará quem está errado e quem está certo”. (A
íntegra desta instrução de Allan Kardec, se encontra na “Revista
Espírita” de novembro de 1859 – lançamento EDICEL, págs. 313 a 316, ou
então na obra “Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita”, -
lançamento da Editora da FEB – págs. 73 a 79).
NOSSO COMENTÁRIO
Essa “Instrução” de Allan Kardec data, como se vê, de 1859, ano
em que Jean Baptiste Roustaing caiu gravemente enfermo e ainda não
conhecia nada de Espiritismo. Foi somente em 1861 que veio a ler “O
Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, passando então a se
considerar espírita, como comunicou por carta a Allan Kardec.
Foi também em dezembro desse ano (1861) que
foi à casa de Madame Emilie Collignon e tomou conhecimento da missão que
lhe cabia. Alguns Espíritos mistificadores, enfeitando-se com os nomes
respeitáveis dos Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, e de Moisés,
se apresentaram à médium, na presença dele, Roustaing, e lhe disseram
que lhe cabia organizar e publicar uma obra com o título de “Os Quatro
Evangelhos”, que seria a “revelação da revelação”, portanto, colocada
acima da Terceira Revelação levada a efeito pelo Missionário de Lyon sob
a assistência do Espírito de Verdade e sua gloriosa Falange
Espiritual...
E Roustaing fez tudo à revelia de Allan Kardec. Não levou a ele
as comunicações que recebia dessa médium; não o consultou em nenhum
momento; não pediu sua opinião sobre as mensagens que já tinha em mãos;
não pediu conselhos. Não fez nada disso que compete a um leal assistente
ou secretário, ou adjunto fazer. E o pior é que, quando achou que já
era hora de publicar os originais da obra que tinha em seu poder, foi à
editora e mandou que publicassem tudo.
Foi assim que, em meados de 1866, foi lançada ao público, essa
obra apócrifa intitulada “Os Quatro Evangelhos”. Digo “apócrifa”, sim,
porque, depois de a ler, Allan Kardec, agindo imparcialmente e sem
nenhuma idéia preconceituosa, embora tivesse encontrado nela muitos
pontos duvidosos e a considerasse muito prolixa e repetitiva demais,
chegou mesmo a elogiá-la e a aconselhar sua leitura. Essa atitude do
querido Mestre lionês não é de estranhar porque ele próprio havia dito
que nós, espíritas, temos que ler de tudo, até mesmo os contras (L.M.
parte I, cap. III, número 35 – dois últimos parágrafos).
Mas ele deixou bem claro que as explicações encontradas na obra
nada mais eram do que “opiniões pessoais dos Espíritos que as
formularam; podem ser justas ou falsas, por isso mesmo necessitam da
sanção do controle universal; até mais ampla confirmação, não poderiam
ser consideradas, como partes integrantes da doutrina espírita” (R.E.
junho/1866 – EDICEL, pág.180).
Além disso, quase dois anos depois, ou seja, em 6 de janeiro de
1868, em Paris, Kardec publicou sua última obra “A GÊNESE”, em que nega,
peremptoriamente, todas as explicações, todos os argumentos utilizados
por Roustaing (“A Gênese”, cap. V, ns. 65, 66 e 67).
Pois bem, apesar de tudo isto, constantemente se sucedem no
palco os bobos da corte, querendo fazer-nos morrer de rir com suas
piadas: uns dizendo que a Federação Espírita Brasileira (FEB) não é,
nunca foi, nem nunca será roustainguista, portanto não serve a dois
senhores ao mesmo tempo; é, muito ao contrário, kardecista, “somente
kardecista”; outros, humoristicamente declarando que no art. lº do
Estatuto da FEB, não há nenhum parágrafo único, dizendo que a obra de
Roustaing é complementar às da Codificação Kardecista; outros, a
declarar que o Espírito de Allan Kardec, “o bom senso encarnado”, lá em
cima se arrependeu de ter sido o Codificador do Espiritismo, e passou a
ser também roustainguista, como Luciano dos Anjos publicou em sua obra
intitulada “Os Adeptos de Roustaing”. Teve um que chegou ao cúmulo de
dizer que “o roustainguismo é um curso superior de espiritismo”,
querendo dizer com isto que o prof. Rivail foi apenas um mestre escola a
ensinar as primeiras letras, enquanto o advogado de Bordéus foi um
catedrático, meritíssimo reitor de uma universidade.
Houve mesmo um grupo que se reuniu num teatro em outubro de
1949, e representou uma comédia muito engraçada, digna de Molière,
intitulada “Pacto Áureo”. Estavam todos sob a proteção do Espírito do
Regenerador, anunciado por Roustaing. E não foi preciso discussão
nenhuma para proclamarem, alto e bom som, que “cabe aos espíritas do
Brasil porem em prática a exposição contida no livro ‘Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho”, ditado pelo Espírito de Humberto de
Campos, pela psicografia de Chico Xavier, publicado pelo Departamento
Editorial da FEB em 1938, com prefácio de Emmanuel = leia-se: padre
Nóbrega”. Essa obra ridiculariza Jesus, o Homem de Nazaré; coloca o
Cordeiro de Deus acima do Espírito de Verdade e chega a afirmar,
mentirosamente, que Jean Baptiste Roustaing foi auxiliar de Allan
Kardec.
Confesso que, quando tomei conhecimento disto, através de um
arlequim que se apresentava num espetáculo a que assisti num circo de
Bordéus, montado na praça da Alegria, em São Paulo, caí na gargalhada.
Ri tanto que quase morri naquela hora. Foi preciso que me levassem para
um hospital, onde fiquei algum tempo na U.T.I. Mas, graças a Deus e à
proteção dos Amigos Invisíveis, consegui me restabelecer. E, vejam só,
voltei a freqüentar os espetáculos circenses.
Certa vez, fui, não a um circo, e sim a um teatro de comédias,
assistir à apresentação de um palhaço, que, em entrevista à imprensa
espírita, se apresentou como sendo a reencarnação de Molière. Pois não é
que, em certo momento do espetáculo, ele, mostrando um livro que trazia
na mão direita, pediu a atenção de todos e disse:” - Respeitável
público, vocês sabem quem foi a reencarnação do Mestre Allan Kardec? Não
sabem? Pois eu sei: foi este aqui”. E apontou para um dos dois vultos
que apareciam na capa do livro: o Chico....
O Franco Paladino
“BRASIL, PÁTRIA DO EVANGELHO” PODE ?!
Em 1938, o Espírito de Humberto de Campos, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, euforicamente, proclamou: “BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO”. E, como exaltava a obra do jesuíta Padre Manoel da Nóbrega e a ação dos pioneiros do Espiritismo no Brasil, a obra foi prefaciada por Emmanuel e publicada pela Federação Espírita Brasileira, transformando-se logo no livro mais vendido e mais procurado pelos espíritas brasileiros e estrangeiros também, pois tem sido traduzida em vários idiomas.
A alegria e satisfação que essa obra causou no mundo espírita
foram enormes, pois se passou a ter a convicção plena de que, sob a
proteção do “Coração misericordioso do Cordeiro de Deus”, nosso país
iria se transformar, imediatamente, num verdadeiro eldorado, ”lugar
pródigo em delícias e riquezas”, ou seja, o verdadeiro paraíso
terrestre, que a Humanidade vem procurando há tantos séculos. E o
fanatismo que essa obra provocou no meio espírita foi tão grande que
pelo “Pacto Áureo”, assinado em outubro de 1949, transformando o
Conselho Federativo Nacional num simples Departamento da FEB, ficou
decretado que: “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a
exposição contida” no livro em epígrafe.
Muito bem! Estamos iniciando este mês o sexto ano do século XXI e
do terceiro milênio. De 1938 até 2006 foram passados já sessenta e oito
anos. Olhando-se então para trás, pode-se perguntar hoje: “ – Será
mesmo o Brasil a Pátria do Evangelho, como declarou, euforicamente o
Espírito de Humberto de Campos? Será?!!!”.
Na minha modesta opinião, acho que não, por vários motivos, a
começar pelo seguinte: a pátria é o lugar, o país, onde nascemos, e não
foi no Brasil que o Evangelho nasceu e sim na Palestina, onde foi
pregado e exemplificado por Jesus de Nazaré, o grande Homem, e não esse
agênere falso e mentiroso, que andam mostrando por aí. Será que esse
Espírito, que se apresentou como sendo Humberto de Campos, um dos
“imortais” da Academia Brasileira de Letras, não sabia disso?! E depois,
quem acompanha as notícias veiculadas pela imprensa escrita, falada e
televisionada, tem a convicção plena de que aqui o progresso moral, o
progresso espiritual não vêm acompanhando o progresso material, que
caminha numa velocidade imensa. Na verdade, materialmente falando, o
país se transformou muito: as cidades de outrora viraram metrópoles; os
antigos territórios passaram a ser Estados da Federação; as capitais das
antigas províncias viraram megalópoles, cheias de altos edifícios, de
magníficos condomínios, de palácios suntuosos públicos e particulares;
as ruas, depois de calçadas, foram asfaltadas; os lampiões, que
iluminavam as casas e as vias públicas, foram substituídos por lâmpadas
elétricas; nas residências, nas casas comerciais e nas repartições
públicas, apareceram os rádios, os telefones, as televisões, os
computadores; os dramas, as comédias e os romances de amor, que,
antigamente, só apareciam nos livros, nos teatros e nos cinemas, hoje em
dia aparecem também dentro de casa, onde as famílias se reúnem diante
das televisões para assistir às telenovelas... Enfim, um grande, um
imenso progresso material, que deu ao Brasil a categoria de país
emergente, que sai do terceiro mundo e já quer se igualar às grandes
potências mundiais.
Em contrapartida, como vive a população brasileira?
Não precisaríamos dizer nada a este respeito, porque as
manchetes de jornais e revistas, os livros, os filmes, os programas
televisivos aparecem, diariamente, dentro de nossa própria casa, para
nos dizer e mostrar como anda o mundo moderno nesta chamada “Pátria do
Evangelho”. Pátria abençoada e protegida pelo Cordeiro de Deus, que
aparece, majestosamente numa estátua de pedra com os braços abertos e
acolhedores para os turistas nacionais e estrangeiros tirarem suas
fotografias.
E o que se passa na sociedade?
As criancinhas recém nascidas, frutos da violência, renegadas
pelas mães, são jogadas nas latas de lixo e as que não têm esse destino,
ficam vivendo em lares formados por pessoas carentes, onde as mulheres
miseráveis vivem trocando de companheiros, que as engravidam e dão no
pé, deixando-as com vários filhos fracos e desnutridos. Os que já têm
idade para aprender a ler e escrever, ao invés de irem para as escolas,
vão para as ruas pedir esmolas ou se mostrar aos motoristas de táxis e
carros particulares como malabaristas, e assim conseguirem levar para
casa alguns trocados, para ajudarem os pais nas despesas da família.
Outros, muito cedo, enveredam para o mundo das drogas e da prostituição,
tornando-se vítimas de traficantes do sexo e de padres pedófilos.
No meio urbano a situação é esta: casamentos que
duram meses; violência contra as mulheres em casa e nas ruas; assaltos,
estupros, sequestros; invasões de imóveis pelo grupo dos sem-teto, que
depois são despejados à força pela polícia por ordem do juiz de direito;
filas intermináveis nas escolas para se conseguir matrículas, nos
hospitais e clínicas de saúde, para se marcar consultas, muitas vezes
transferidas por falta de condições materiais e de profissionais, que
estão constantemente em greves prolongadas. E os que precisam de
atendimento de urgência não encontram vagas e têm de ficar esperando
nos corredores....
No meio rural a escravidão humana ainda existe apesar da famosa
“Lei Áurea” e os “sem terra” vivem invadindo e tomando à força as
propriedades alheias.
No âmbito da administração pública, o exemplo que vem de cima é
péssimo: falta de cumprimento das promessas feitas em campanhas
eleitorais; desvios de verbas para fins ilícitos; corrupção das
autoridades; suborno por parte dos servidores, nos três níveis de
governo (municipal, estadual e federal) e nos três poderes da República
(Executivo, Legislativo e Judiciário); abertura de processos policiais e
de comissões parlamentares de inquéritos, para julgamento dos
infratores, resultando daí as constantes cassações de mandatos...
Enfim, uma vergonha! Sim, uma VERGONHA”
E é isto que o Espírito de Humberto de Campos, que, em vida
chegou a envergar o fardão da Academia Brasileira de Letras, chamou de
“Pátria do Evangelho”...
Quá! Quá!Qua!Quá!... Só rindo mesmo!
O Franco Paladino
PACTO ÁUREO
UNIFICAÇÃO
Os espíritas do “Coração do Mundo”, no dia 5 de Outubro de 1949, data
a que o nosso colega “Mundo Espírita” muito acertadamente chamou - DIA
ÁUREO DA CONFRATERNIZAÇÃO -, vibraram de entusiasmo pelo grande
acontecimento da Unificação, pois que a notícia foi levada celeremente a
todos os recantos da Pátria, através de telegramas, de rádios, de
cabogramas e de telegramas interurbanos.
Com um entusiasmo nunca dantes verificado em nossos meios, os abraços
se sucediam, enquanto de muitos olhos a alegria se manifestava
cristalina e bela, através de pérolas liquefeitas a rolarem,
silenciosas, mas vivificadas pelo Espírito, pelas faces dos velhos
trabalhadores da Seara.
“Reformador” não pode registar os acontecimentos. Seus redatores não
se sentem capazes de descrever com palavras precisas, talvez por
inexistentes no vocabulário humano, os quadros de verdadeira
espiritualidade então presenciados por todos quantos tiveram a grande
felicidade de se encontrarem reunidos, na Capital da República.
Dessa forma, que nos perdoem os nossos leitores e passemos à transcrição do primeiro documento:
- Grande Conferência Espírita realizada no Rio de Janeiro:
Ata da reunião entre os diretores da Federação Espírita Brasileira e
os representantes de várias Federações e Uniões de âmbito estadual: Aos
cinco dias do mês de Outubro do ano de mil e novecentos e quarenta e
nove (1949), na sede da Federação Espírita Brasileira, à Avenida Passos,
nº 30, na cidade do Rio de Janeiro, Capital da República, Brasil,
presentes o Sr. Antônio Wantuil de Freitas, presidente da F.E.B., e
demais signatários desta, após se dirigirem ao Alto, em prece,
suplicando bênçãos para todos os obreiros da Seara Espírita do Brasil,
bem como para toda a Humanidade, e depois de longo e coordenado estudo
do movimento Espírita Nacional, a que pertencem, acordaram em aprovar os
seguintes itens, “ad referendum” das Sociedades que representam: 1.º)
Cabe aos Espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no
livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, de maneira a
acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo. - 2.º) A F.E.B. criará um
Conselho Federativo Nacional, permanente, com a finalidade de executar,
desenvolver e ampliar os planos da sua atual Organização Federativa. -
3.º) Cada Sociedade de âmbito estadual indicará um membro de sua
diretoria para fazer parte desse Conselho. - 4.º) Se isso não for
possível, a Sociedade enviará ao presidente do Conselho uma lista
tríplice de nomes, a fim de que este escolha um desses nomes para membro
do Conselho. - 5.º) O Conselho será presidido pelo presidente da
Federação Espírita Brasileira, o qual nomeará três secretários, tirados
do próprio Conselho, que o auxiliarão e substituirão em seus
impedimentos. - 6.º) Considerando que desde a sua fundação a F.E.B. se
vem batendo pela autonomia do Distrito Federal, conforme se vê em seu
órgão - “Reformador” -, fica o Distrito Federal considerado como Estado,
em igualdade de condições com os demais Estados do Território Nacional.
- 7.º) O presidente da Federação Espírita Brasileira nomeará uma
Comissão de três juristas espíritas e dois confrades de reconhecida
idoneidade, para elaborar o Regulamento do Conselho Federativo Nacional e
propor as modificações que se tornarem necessárias nos atuais Estatutos
da Federação Espírita Brasileira. - 8.º) No caso de haver mais de uma
sociedade de âmbito estadual em algum Estado, tudo se fará para que se
reúnam em torno de uma terceira, cuja presidência será exercida em
rodízio e automaticamente pelo presidente de cada uma delas,
substituídos que serão, anualmente, no dia 1º de Janeiro de cada ano. -
9.º) Anualmente, em sua primeira reunião do mês de Agosto, o Conselho
organizará o seu orçamento, o qual, uma vez aprovado pela Diretoria da
F.E.B., será entregue ao tesoureiro dessa. - 10.º) Cabe à Federação
Espírita Brasileira entrar com cinquenta per cento do que for
determinado para o referido orçamento, devendo os restantes cinquenta
per cento ser distribuídos em cotas iguais entre todas as Sociedades
pertencentes ao Conselho. - 11.º) Na escrita da F.E.B. o seu tesoureiro
deverá criar um título no qual lançará todo o movimento de valores,
inclusive de donativos que forem feitos com a finalidade de facilitar os
trabalhos do Conselho, quantias essas que, de forma alguma, poderão ser
aplicadas senão por deliberação do dito Conselho. - 12.º) As Sociedades
componentes do Conselho Federativo Nacional são completamentes
independentes. A ação do Conselho só se verificará, aliás,
fraternalmente, no caso de alguma Sociedade passar a adotar programa que
colida com a doutrina exposta nas obras: “O Livro dos Espíritos” e “O
Livro dos Médiuns”, e isso por ser ele, o Conselho, o orientador do
Espiritismo no Brasil. - 13.º) Deverá ser organizado um quadro de
pregadores espíritas, composto de sócios das Sociedades adesas, os
quais, dentro de suas possibilidades, serão escalados para visitar as
Associações que ao Conselho dirijam convites para festividades de
caráter puramente Espírita. - 14.º) Se possível, será criado, também, um
grupo de pregadores experimentados e cultos, com a difícil missão de
levar a palavra do Evangelho aos grupos que, ainda mal orientados,
ofereçam campo à semeadura cristã. - 15.º) Nenhum membro do Conselho
poderá dar publicidade a trabalho seu, individual, subscrevendo-o como
membro do Conselho Federativo Nacional, salvo se o trabalho for
antecipadamente lido e aprovado pelo Conselho. - 16.º) Os membros do
Conselho são considerados como exercendo cargo de confiança das
Sociedades que os indicarem. - 17.º) Sempre que possível, o Conselho
designará um dos seus membros para assistir aos trabalhos doutrinários
realizados pelas Sociedades. - 18.º) Se alguma colidência encontrar,
pedirá ele se convoque a diretoria da Sociedade e, então,
confidencialmente, exporá o que deverá ser modificado, de acordo com o
plano geral estudado pelo Conselho. E nada mais havendo, eu, Oswaldo
Mello, servindo de secretário, a escrevi e datilografei, assinando-a
juntamente com os componentes da reunião, que decorreu sob a mais viva
emoção dos circunstantes. E, para constar, fiz esta, que subscrevo, aos
cinco dias do mês e ano referidos. a) Oswaldo Mello, secretário. Antônio
Wantuil de Freitas, presidente da Federação Espírita Brasileira; Arthur
Lins de Vasconcellos Lopes, por si e pelo Sr. Aurino Barbosa Souto,
presidente da Liga Espírita do Brasil; Francisco Spineli, pela Comissão
Executiva do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita e pela
Federação Espírita do Rio Grande do Sul; Roberto Pedro Michelena;
Felisberto do Amaral Peixoto; Marcírio Cardoso de Oliveira; Jardelino
Ramos; Oswaldo Melo, pela Federação Espírita Catarinense; João Ghignone,
presidente e Francisco Caitani, membro do Conselho da Federação
Espírita do Paraná; Pedro Camargo - Vinícius e Carlos Jordão da Silva,
pela União Social Espírita de S. Paulo (USE); Bady Elias Curi, pela
União Espírita Mineira; Noraldino de Mello Castro, presidente do
Conselho Deliberativo da União Espírita Mineira. Em tempo: Depois de
assinado o presente documento, o presidente Wantuil de Freitas, após
manifestar os seu regozijo pelo histórico acontecimento, com palavras
cheias de fé e de esperança nos destinos gloriosos do Brasil Espírita,
convidou o confrade Pedro Camargo-Vinícius a proferir a prece final, de
encerramento dos trabalhos, o que foi feito, fervorosamente, em súplica
ardente aos Espíritos Superiores, aos quais rogou assistência e
iluminação para o desenvolvimento rápido dos nossos trabalhos, na
semeadura do bem e do amor, em torno do Mestre e Senhor, Eu, Oswaldo
Mello, subscrevo e assino, como testemunho da verdade: Oswaldo Mello.
NOTA CONFORTADORA:
Após a prece final proferida pelo confrade Vinícius e quando todos ainda se encontravam em concentração, manifestou-se psicofônicamente o saudoso presidente da F.E.B., Guillon Ribeiro, cujas palavras de aprovação, de fé e de grande amor foram recebidas como um prêmio de Mais Alto, por intermédio daquele companheiro que tão abnegadamente serviu e serve à Causa do Espiritismo cristão.
Após a prece final proferida pelo confrade Vinícius e quando todos ainda se encontravam em concentração, manifestou-se psicofônicamente o saudoso presidente da F.E.B., Guillon Ribeiro, cujas palavras de aprovação, de fé e de grande amor foram recebidas como um prêmio de Mais Alto, por intermédio daquele companheiro que tão abnegadamente serviu e serve à Causa do Espiritismo cristão.
A palavra de Guillon Ribeiro foi recebida mediunicamente pelo Sr.
Oswaldo Melo, secretário da Conferência e presidente da Federação
Espírita Catarinense.
Em sua reunião, realizada alguns minutos após o encerramento dos
trabalhos acima referidos, o “Grupo Ismael”, célula máter da F.E.B.,
recebeu duas belíssimas comunicações: uma, no início, psicografada, do
Espírito de Bittencourt Sampaio, e outra, final, psicofônica, do
Espírito de Ismael.
Como consequência dessa Unificação, o presidente da Casa de Ismael,
quando da irradiação, em 9 do mesmo mês, da “Hora Espiritualista João
Pinto de Souza”, dedicada a este auspicioso evento e também por motivo
da realização do 2º Congresso Espírita Pan-Americano, proferiu a
seguinte oração:
- Irmãos do Continente Americano:
Eu vos saúdo.
Há precisamente seis anos, logo após a minha primeira eleição para
presidente da Federação Espírita Brasileira, duas mensagens me foram
enviadas do Alto. Guardei-as comigo e somente a pequeno número de
companheiros delas dei conhecimento.
Vieram por médiuns diferentes e mais ou menos se completavam. Uma me
anunciava toda a agitação que se processou nesses últimos anos e me
aconselhava calma, humildade e amor, afirmando-me que, após a
tempestade, a Casa Máter veria reunidos em torno dela todos os seus
muito amados filhos.
A segunda - como dela me recordo hoje com o mesmo júbilo daqueles
dias -, não me falava senão do período de bonança que ora gozamos,
anunciado, então, exatamente para esse fim de ano, pois que me indicara
como data o 66º aniversário da Federação, ou seja, 1º de Janeiro de
1950.
Hoje, eu vos trago a terceira Mensagem recebida agora, no dia 5,
alguns minutos depois de se retirarem da sede da Federação os
companheiros que nela se reuniram e decidiram, por unanimidade,
concretizar, nestas plagas do Planeta, aquilo que no Alto já havia sido
traçado.
Ouçamos, pois, a palavra de Ismael, do guia das Terras Brasileiras, e
que nos foi enviada em sessão ordinária do “Grupo Ismael”, célula-máter
da Federação Espírita Brasileira:
“Ajuda-me, Jesus! Ajuda-me, Mãe Santíssima! Irmãos! Filhos de minha
alma, fiéis aprendizes de minha humilde oficina na grande forja do
Mestre e Senhor! - Eu vos saúdo e abençôo, em nome desse mesmo Mestre e
Senhor, pedindo recebais meus votos em vossos corações e os transmitais a
todos os obreiros da seara divina, aos trabalhadores de última hora que
fazem jus ao salário e se entregam à tarefa com toda a dedicação.
“Sim! O fruto amadureceu. E, na hora precisa, por todos pode ser
saboreado, meus amigos - por todos os arrebanhados por mim para preparar
o celeiro. Na Pátria do Cruzeiro, homens falíveis criaram separações
imaginárias, embora no fundo seus corações buscassem a Jesus. Os que os
assistiam mais de perto sabiam que, a seu tempo, o véu que lhes encobria
a verdade viria a ser afastado e o reino do entendimento raiaria entre
eles, para que unidos buscar pudessem o reino da Paz, aquele que só
Jesus está em condições de distribuir entre os homens. Avante,
caravaneiros da Pátria do Evangelho! Não permitais que o homem velho
sufoque o novo que surge das páginas do Livro santo! Que a humildade
seja a vossa primordial arma, a exemplo de Jesus. Que a renúncia,
amigos, vos secunde em todos os atos para buscardes e terdes em vós o
reino dos Céus. Jamais impere o personalismo em vossos corações. Todas
as vezes que a luta pela conquista de bem se vos tornar áspera e
encontrardes dificuldades em vencê-las, orai, amigos da caravana que se
não extingue. Orai! orai! Elevai-vos acima de vós mesmos nas asas da
prece e, na volta, certamente trareis um Anjo do Senhor convosco.
“Testemunhos, nós os teremos que dar. Decepções, vos as encontrareis
ainda. Mas, que dizermos do Sermão da Montanha, se não houvera
decepções? Benditos os que padecem perseguições e injúrias! Benditos os
aflitos! Benditos os que sofrem carência de justiça!
“As lutas terão que atingir-nos incessantemente. Todavia, se tivermos
Jesus no coração, a fé que remove montanhas e a consciência tranquila
do dever bem cumprido - diante da dor nada devermos temer. Caminharemos
sempre.
“Daqui faço um apelo aos meus colaboradores na divulgação do
Evangelho, nesta parte do hemisfério, para que a lição recebida no dia
de hoje fique gravada em suas almas. Que jamais irmãos movidos pelo
mesmo ideal se entrechoquem, por não haver tolerância, por não haver
renúncia, por não haver humildade. Que a Confraternização, hoje
festejada por todos os corações que se guiam pelas luzes da Terceira
Revelação, possa servir de marco a uma nova era de entendimento através
da propaganda dos ensinos evangélicos, da difusão da Luz aos mais
longínquos recantos da Terra, da caridade indispensável aos que sofrem,
encarnados ou desencarnados, necessitados do pão material ou do
espiritual.
“Se minhas palavras vos merecerem fé, guardai-as em vossos corações.
Cheguem elas, se possível, a todos quantos se interessam pela Paz e pela
Harmonia universais.
“Que Deus vos abençoe e ilumine. Que a Virgem Santíssima vos envolva em seu Amor.
“Em nome do Divino Mestre e Senhor, em seu sacratíssimo nome, abençoo a família espírita.”
(Médium: Gifôni).
E assim terminou Ismael, o legado do Cristo em terras do Brasil.
“Reformador” rejubila-se, pois, com os espíritas brasileiros,
suplicando bênçãos ao Cristo, para que de nós sejam afastados quaisquer
resquícios de animosidades personalistas, visto que só assim a bandeira
de Ismael poderá tremular, impávida e serena, nos céus benditos do
Cruzeiro do Sul.
(Texto publicado na Revista “Reformador” de Nov/1949 - Págs. 243 a 246)
SÉRGIO PEREIRA/KAJAIDE
ORIENTADOR ESPIRITUAL
ANO DE SÀNGÓ/OBÁ/LODÊ
"SOU LUZ!"
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