A ORIGEM DO NATAL
Francisco Feitosa
O autor é o Grande Bibliotecário do Supremo
Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a
República Federativa do Brasil e o Titular da
Cadeira nº
02 da Academia Maçônica Fluminense de Letras.
Através desse trabalho de pesquisa sobre as origens do Natal, não temos
a menor intenção de ofuscar, e nem mesmo conseguiríamos, a beleza das festas
natalinas. Momentos de confraternização, onde a solidariedade, a fraternidade
entre os povos estão mais em evidência. Os festejos natalinos têm um clima de
harmonia e paz, remetendo-nos à interiorização e à reavaliação de valores.
Cabe-nos o compromisso de fazer luz sobre o que muitos, ainda, ignoram. Por
isso, preparamos este singelo trabalho de cunho elucidativo.
A palavra “Natal” tem a ver com
nascimento, ou aniversário natalício, em especial com o dia em que se comemora
o nascimento de Jesus, o Cristo. Esse vocábulo não aparece na Bíblia e, também,
não foi utilizado pelos primeiros Apóstolos. A “Festa de Natal” não se inclui
entre as festas bíblicas.
A Nova Enciclopédia Católica reconhece:
"A data do nascimento de Cristo não é conhecida; os evangelhos
não indicam nem o dia nem o mês". A revista católica americana U.S.
Catholic diz: "É impossível separar o Natal de suas origens pagãs".
Na verdade, a festividade no mês
de Natal já existia mesmo antes de o menino Jesus nascer. Durante muitos anos
comemorava-se nesse período, final do mês de dezembro, do atual calendário
gregoriano, o solstício de inverno no hemisfério Norte, que seria o tempo em
que o sol se afastava do equador e estacionava durante alguns dias, pois,
assim, eram as noites mais frias do ano.
A celebração do Natal antecede ao
Cristianismo em cerca de 2000 anos. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico,
que simbolizava a passagem de um ano para outro, o Zagmuk. Muitos povos
comemoravam quando o inverno passava. Eles esperavam por dias mais longos, com
mais luz do sol; essas festas eram comemoradas por doze dias.
Muito antes da Era Cristo, já
havia, na Europa, mitos e rituais relacionados ao solstício de inverno. Na
Escandinávia, em 21 de dezembro, era comemorado o Yule, ocasião em que os
chefes de família queimavam grandes toras em adoração ao Sol. Na Alemanha,
honrava-se o temido deus Oden, que em seus vôos noturnos escolhia quem iria se
dar bem e quem seria desafortunado no ano seguinte.
No Egito, celebrava-se a passagem
do deus Osíris para o mundo dos mortos. Povos antigos da Grã-Bretanha, também,
comemoravam o evento. As festividades aconteciam ao redor do monumento de
Stonehenge, construído cerca de 3100 a.C. para marcar a trajetória do Sol ao
longo do ano. A construção existe até hoje.
Para os mesopotâmios, o Ano Novo
representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam
que os monstros do caos enfureciam-se, e Marduk, o seu principal deus,
precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O
festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em
sua batalha. A tradição dizia que o rei devia morrer no fim do ano para, ao
lado de Marduk, ajudá-lo em sua luta. Para poupar o rei, um criminoso era
vestido com as suas roupas e tratado com todos os privilégios do monarca; sendo
morto, levava todos os pecados do povo consigo. Assim, a ordem era
restabelecida.
Um ritual semelhante era
realizado pelos persas e babilônios, chamado de Sacae. A versão, também,
contava com escravos, que tomavam o lugar dos seus mestres.
A Mesopotâmia, chamada de mãe da
civilização, inspirou a cultura de muitos povos, como os gregos, que englobaram
as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais
tarde, através da Grécia, o costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo
festival chamado Saturnália (em homenagem a Saturno). A festa começava no dia
17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro; comemorava-se o solstício do inverno.
De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava
mais fraco, porém pronto para recomeçar a crescer e trazer vida às coisas da
Terra.
Durante a data, que acabou
conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e
ninguém trabalhava. Eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram
oferecidos aos amigos e árvores verdes - ornamentadas com galhos de loureiros e
iluminadas por muitas velas - enfeitavam as salas para espantar os maus
espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos
outros.
Na origem, as comemorações
festivas do ciclo natalino vêm do final da Idade Antiga, quando a Igreja
Católica introduziu o Natal em substituição a uma festa mais antiga do Império
Romano, a festa do deus Mitra, que anunciava a volta do Sol em pleno inverno do
hemisfério Norte. A adoração a Mitra, divindade persa que se aliou ao Sol para
obter calor e luz em benefício das plantas, foi introduzida em Roma no último
século antes de Cristo, tornando-se uma das religiões mais populares do
Império.
Até os primeiros três séculos da
Era Cristã, a humanidade não celebrava o Natal como conhecemos hoje. Foi
preciso que o Império Romano adotasse o Cristianismo como religião oficial, no
século IV. A partir desse momento, a Igreja passou a conferir significados
católicos para as tradições e os simbolismos pagãos. Foi a apropriação desses
cultos, sobretudo o de Mitra, que acabou gerando o nosso Natal, com a data de
nascimento de Jesus, sendo celebrada no dia 25 de dezembro.
A data conhecida pelos primeiros
cristãos foi fixada pelo Papa Júlio I para o nascimento de Jesus Cristo, como
uma forma de atrair o interesse da população. Pouco a pouco, o sentido cristão
modelou e reinterpretou o Natal na forma e intenção. Conta a Bíblia que um anjo
anunciou para Maria, que ela daria à luz a Jesus, o filho de Deus. Na véspera do
nascimento, o casal viajou de Nazaré para Belém, chegando na noite de Natal.
A maior parte dos historiadores
afirma que o primeiro Natal, como conhecemos hoje, foi celebrado no ano 336
d.C.. A troca de presentes passou a simbolizar as ofertas feitas pelos três
Reis Magos ao menino Jesus, assim como outros rituais, também, foram adaptados.
Mas nem sempre e nem em todos os
lugares, o Natal foi uma festa familiar e de paz. Na Inglaterra, no século
XVII, a data era sinônimo de bagunça: costumava-se eleger um indivíduo
desocupado como "Lord da Baderna", e, sob suas ordens, os pobres iam
às casas dos ricos para exigirem a melhor comida e bebida. Quem não fornecesse,
era ameaçado e tinha sua casa atacada violentamente. Era tal o pavor das
famílias com a proximidade do Natal, que a comemoração chegou a ser proibida
durante vários anos pelos britânicos.
Na América, o Natal só começou a
ser comemorado no século XIX, época de desemprego e luta de classes,
prevalecendo o violento modelo de comemoração inglês. As brigas de gangues, em
Nova Iorque, atingiram seu auge na época natalina, levando o Conselho Municipal
a criar, em 1828, a primeira força policial da cidade, que surgiu com a missão
específica de combater os conflitos de Natal.
Mais recentemente, atendidos os
interesses católicos, o nascimento de Jesus passou a servir ao novo poder
mundial: o capitalismo. Data máxima do marketing e do comércio, a partir do
século XX, o Natal, desde então, arrasta multidões aos shoppings e
supermercados, em obediência à ordem suprema da publicidade para o consumo
desenfreado e irracional. A mensagem é tentadora: compre e será feliz!
Estudiosos afirmam que a figura do bom velhinho foi inspirada num bispo
chamado Nicolau, que nasceu na Turquia em 280 d.C. O bispo, homem de bom
coração, costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas
próximos às chaminés das casas.
Foi transformado em santo (São Nicolau) após várias pessoas relatarem
milagres atribuídos a ele. A associação da imagem de São Nicolau ao Natal
aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Nos Estados
Unidos, ganhou o nome de Santa Claus; no Brasil, de Papai Noel; em Portugal, de
Pai Natal.
Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa
de inverno na cor marrom. Porém, em 1881, uma campanha publicitária da
Coca-Cola mostrou o bom velhinho com uma roupa, também de inverno, nas cores
vermelha e branca (as cores do refrigerante) e com um gorro vermelho com pompom
branco. A campanha publicitária fez um grande sucesso, e a nova imagem do Papai
Noel espalhou-se rapidamente pelo mundo.
Por interesses comerciais, foram
introduzindo-se novos hábitos de consumo para essa comemoração. Comer peru no
Natal surgiu em Plymouth, Massachusetts, nos EUA, em 1621. Nesse ano, no Dia de
Ação de Graças, serviu-se peru selvagem, criado pelos índios mexicanos, como
prato principal. Os espanhóis o levaram para a Europa por volta do século XVI.
Nessa época eram servidos gansos, cisnes e pavões, aves nobres. O peru, além de
ser mais barato, ganha peso mais facilmente.
O surgimento do panetone é
atribuído ao mestre-cuca Gian Galeazzo Visconti, que o teria preparado para uma
festa, em 1395. O costume de comer panetones em ceias de Natal nasceu em Milão.
Depois, tomou conta da Itália e, daí, ganhou todo o mundo.
A Igreja católica, sempre, deu
muita importância para o valor da música. As primeiras canções natalinas datam
do século IV e são cantadas até hoje na véspera de Natal. Já o costume de
montar presépios, embora de origem hebraica, surgiu com São Francisco de Assis,
que pediu a um homem chamado Giovanni Villita, que criasse o primeiro. São
Francisco, então, celebrou uma missa em frente daquele presépio, inspirando
devoção a todos que a ela assistiam. Foi em Nápoles, na Itália, no século
XVIII, que esse hábito cresceu. Os presépios eram montados na sala das casas,
com figuras de barro e madeira.
No mundo, milhões de famílias
celebram o Natal ao redor de uma árvore. A árvore, símbolo da vida, é uma
tradição mais antiga do que o próprio Cristianismo, e não é exclusiva de uma só
religião. Muito antes de existir o Natal, os egípcios traziam galhos verdes de
palmeiras para dentro de suas casas, no dia mais curto do ano, em dezembro,
como um símbolo de triunfo da vida sobre a morte.
Já o costume de ornamentar a
árvore pode ter surgido do hábito que os druidas tinham de decorar velhos
carvalhos com maçãs douradas, para as festividades desse mesmo dia do ano.
A primeira referência a uma "Árvore
de Natal" é do século XVI. Na Alemanha, famílias ricas e pobres decoravam
árvores com papel colorido, frutas e doces. Essa tradição se espalhou pela
Europa e chegou aos Estados Unidos pelos colonizadores alemães. Logo, a Árvore
de Natal passou a ser popular em todo o mundo.
A prática de enviar cartões de
Natal surgiu na Inglaterra, no ano de 1843. Em 1849, os primeiros cartões
populares de Natal começaram a ser vendidos por um artista inglês chamado
William Egly.
A guirlanda, às vezes conhecida por
“coroa de Natal” é memorial de consagração. Em grego, é “stephano”, em latim,
“corona”, podendo ser entendida como enfeite, oferenda, oferta para funerais,
celebração memorial aos deuses, à vitalidade do mundo vegetal, às vítimas que
eram sacrificadas aos deuses pagãos, aos esportes, etc. Significa um “Adorno de
Chamamento” e, consequentemente, é porta de entrada de deuses. Razão pela qual,
em geral, coloca-se a guirlanda nas portas, como sinal de boas vindas! A Bíblia
não faz qualquer menção de uso de “guirlanda” no nascimento de Jesus. Só existe
uma na Bíblia, feita por Roma para colocar na cabeça de Jesus no dia de sua
morte, mas com espinhos, símbolo de escárnio!
Muito embora o Natal tenha sua
origem bem anterior ao nascimento de Jeoshua Ben Pandira – o Jesus bíblico - e
o Cristianismo, não conseguindo refrear as comemorações das festas tradicionais
pagãs, tenha, inteligente e gradualmente, adotado a data como o nascimento do
Mestre Jesus, isso em nada fere a essência da comemoração.
Natal é para comemorarmos o
nascimento do Cristo sim, mas dentro de nós, na manjedoura de nosso coração! O
que devemos é pautar nossos passos baseados em seus excelsos ensinamentos: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim!”
Ninguém ascenderá em evolução em
direção à Casa do Pai, se não encontrar seu Cristo interno, se não iniciar uma
ação, ou melhor, uma Iniciação, semeando Amor em seu coração e,
conscientemente, alimentando o Fogo Interno – kundaline - a ponto de
transformá-lo em Luz.
A mensagem do Natal nada mais é
que uma proposta de renascimento de cada um, mas não em carne, mas em espírito.
Nesse Natal, comemore, sim, o
nascimento do Cristo, porém dentro de você!
Desejamos-lhe um Feliz Natal, na
acepção da palavra!
SÉRGIO PEREIRA/KAJAIDE
ORIENTADOR ESPIRITUAL
ANO DE ÒGUN E YEMANJÁ
"EU FAÇO!"