PAI
JOAQUIM D’ANGOLA
Pai
Joaquim D'Angola apresenta-se sempre com uma calça branca, sem camisa e com uma
guia somente.
Traz na
mão esquerda seu cachimbo e na mão direita uma pemba branca.
Falar de
Pai Joaquim D'Angola não é tarefa fácil.
É
maravilhoso poder trabalhar com esta entidade. Sempre que arria (quando se comunica através do médium ostensivamente), mesmo que para
trabalhos rápidos, sempre deixa grandes lições.
Sempre
fala com carinho com todos, mesmo quando não compartilha
com as ações, procedimentos, ideias errôneas ou quando há algo errado na casa espiritualista.
Quando
incorpora, sempre traz uma sensação de alívio muito aconchegante a todos os presentes. Sua primeira
preocupação é limpar o médium com quem vai trabalhar, mantê-lo equilibrado
energeticamente para que este não carregue nada ruim enquanto trabalha no atendimento caritativo.
Sua
maneira de trabalho é muito peculiar. Trabalha nas duas bandas, ou seja, nas falanges do bem e na dos marginalizados espiritualmente, onde nessa última tem grande sabedoria em como se comunicar e usar de muita diplomacia para poder negociar com o mal. Faz isso para o bem poder caminhar. Sempre se apresenta com um ótimo senso de humor e procura sempre
deixar suas lições de maneira simples e objetiva, para que não fiquem dúvidas
com relação ao assunto.
É exímio
conhecedor das propriedades medicinais das plantas. Sua especialidade é
trabalhar com a saúde.
Pai
Joaquim D'Angola é chefe de falange e vale a pena frisar que sua falange é
enorme. Tem grande influência sobre seus comandados e uma equipe muito grande
de Exús a seu serviço.
Pai
Joaquim, como muitos Pretos-Velhos, foi trazido ao Brasil na época da
escravidão. Era um simples morador de uma aldeia na Angola, hoje chamada de
Lobito, quando houve a invasão portuguesa. Os portugueses escravizaram diversos
negros que apresentavam um bom estado de saúde para que servissem de escravos
do outro lado do Atlântico. Pai Joaquim, como tantos outros, foi arrancado do seio de sua família,
tinha esposa e filhos nesta época.
Um de
seus filhos gerou um filho com o nome de Tomáz, seu neto, hoje uma entidade
conhecida na Umbanda que apresenta-se com o nome de Pai Tomáz.
Quando
Pai Joaquim chegou ao Brasil trabalhou pelo resto da vida em uma fazenda de
cana e café na região de Minas Gerais.
Durante
sua vida na fazenda, começou a ser chamado de Pai Joaquim pois era o curandeiro
da comunidade que se formou. Sempre tinha uma maneira de aliviar o sofrimento físico
de seus irmãos através do uso de plantas, desenvolvendo chás, unguentos e
emplastros. Era muito hábil em animar seus irmãos com mensagens de carinho e
esperança. Sempre tinha uma boa lição para ensinar.
Seus
feitos milagrosos com seus irmãos chamaram a atenção dos senhores das fazendas
que começaram a levar seus entes para serem tratados por Pai Joaquim. Ele
amorosamente os tratava da melhor maneira possível. A notícia de seus feitos
estava se disseminando entre as comunidades mais próximas, o que o denotou como
curandeiro e, para algumas pessoas da época, simplesmente bruxo, conhecedor das
magias dos negros e, nesta época, totalmente condenável pela igreja católica.
Certo
dia, uma criança, filha de um dos senhores, foi levada até Pai Joaquim para que
fosse tratada de sua enfermidade. Ela apresentava sérios problemas de saúde. No
início do tratamento, Pai Joaquim já sabia que ela lhe foi levada tarde demais
e que seria quase impossível devolver-lhe a saúde tão esperada.
O senhor,
pai da criança, disse que se Pai Joaquim não a curasse de tal enfermidade, ele
mesmo trataria de ordenar sua morte e que esta se daria com muito sofrimento.
Pai
Joaquim, com todo seu conhecimento não pôde restaurar-lhe a saúde e a criança
acabou desencarnando. Mas de antemão já pressentiu que sua vida na Terra também estava se esgotando e que não seria sem dor e grande sofrimento.
Após a
dor da perda, o senhor imediatamente ordenou que o velho Joaquim fosse açoitado
até a morte, para que dessa maneira todos os outros aprendessem com quem
estavam lidando e que não lhe adiantavam quaisquer outros meios de cura se não
fosse pela tradicional. Os senhores das fazendas não tolerariam mais os atos de
curandeiros, nem negros que detivessem o poder de manipular as magias que só
eles conheciam.
Pai
Joaquim foi açoitado por um dia inteiro, sem direito à qualquer alimento ou
sequer um pouco de água.
Durante
sua sessão de tortura, ele chorava e pedia a Deus que lhe levasse, pois a sua
dor era insuportável. Não só a dor da carne, mas também a dor de seus
sentimentos, donde tanto fez para trazer a paz, alegria e saúde aos que agora
acoitavam-lhe sem piedade, sim porque dentre eles havia aqueles que Pai Joaquim tinha salvo da morte certa.
Quanto
mais o tempo passava, mais Pai Joaquim odiava tudo o que tinha feito pelo
próximo, e o pior, começava a odiar a Deus pelas suas Leis e pelo que lhe tinha
reservado à vida.
Nessa prova árdua, Pai Joaquim começou a vacilar. Pensava: "Como
podia um Deus tão bom e tão justo deixar que façam isso comigo? Eu que sempre
zelei pelas suas leis e pelos seus ensinamentos? Eu que fui escravizado e o
resto de minha vida fui condenado a trabalhar como um animal de carga?
Deixaste-me, ó meu Deus, que me tratassem como um animal, quando o que mais
queria era tratar meus semelhantes da forma mais humana, transmitindo-lhes o
amor que o Senhor tanto tenta nos ensinar!!! Eu que era só amor agora me
transformo em ódio, por tudo que fiz e que mereço agora são chibatadas neste
corpo frágil e cansado do trabalho e do tempo!!! Onde estás meu Deus que não me
protege nesta hora de minha maior agonia???" Onde estão os meus Orixás? Os Orixás de meus ancestrais, a quem sempre prestei obrigação?!
E foi dentro desse quadro de dor e revolta que Pai
Joaquim deixou o plano terreno ao entardecer, quando a luz do sol já não lhe
aquecia mais o corpo.
Algum tempo depois que não sabia precisar de quanto foi, ele recobra a lucidez e viu-se
envolto por uma névoa branca. Assustado com o presente momento percebeu o que sentia pois ainda levava consigo
a dor dos chicotes, a revolta do acontecido e mais a saudade de seus irmãos... o amor pelos seus...
Passado um tempo que não sabia determinar se foi de um dia ou de anos, sentindo-se só e
perdido, lembrou-se do que recomendava para aqueles que lhe procurava em momentos semelhantes a esse pelo que ele próprio estava passando, então começou a orar. No início sem muita convicção. Percebeu que ninguém lhe chegava, nenhuma
alma vinha lhe prestar socorro ou ao menos lhe dizer o que fazer ou para onde
ir.
Mas, após um
bom tempo de espera angustiosa, começou a ficar irritado com tal situação, começou a esbravejar:
"E
agora??? Onde está esse tal Deus que vocês sempre me ensinaram que existe e que eu repassei essa fé para quem me procurava???
Que Deus é esse que simplesmente me deixou quando mais precisei Dele??? Que
Deus é esse que ao invés de me ensinar o amor me ensinou a dor??? Que Deus é
esse???"
Enquanto
esbravejava, notou que não tocava seus pés no chão. Parou de falar por alguns
instantes. Olhou para trás e viu que quem o segurava em seus braços era uma entidade veneranda.
E disse-lhe:
"-
Tenha calma, meu velho, meu amigo, meu irmão, que sua dor já passou. E pra onde
nós estamos indo nunca mais sentirás dor, nunca mais sentirás saudades, nunca
mais sentirás solidão e terás a todos que ama ao vosso lado! Todos mesmo até seus ancestrais e seus Orixás.
A criança
cuja enfermidade não foi possível curar também estava na recepção ao Pai Joaquim.
Mas o porque
do nome de Pai Joaquim D'Angola e o seu chapéu de palha?
Pai
Joaquim (ou Iquemí) foi um forte guerreiro, filho prometido de uma família real
africana, oriunda de Angola, África, para reinar junto ao seu povo.
Iquemí
era príncipe majestoso, amava sua liberdade, seus amores, um legítimo filho de
Xangô.
Mas entre
guerra pelo poder, Iquemí foi aprisionado por uma tribo inimiga que o
entregaram aos mercadores brancos.
Iquemí, o
grande guerreiro, príncipe de sua tribo, estava em desespero. Preso como um
animal, veio no porão de um navio aos gritos de desespero dos seus inimigos de
cor.
O
mercador de escravos, dono do navio onde vinha Iquemí, soube do destaque de ter
um príncipe entre os outros escravos, observou o seu porte, sua beleza, seus
dentes perfeitos e seu corpo musculoso, mas viu nos seus olhos que não se
submeteria aos maus tratos em se tornar um escravo.
O
mercador de escravos chama-se Manoel Joaquim, nascido em Lisboa, decidiu então
ficar com Iquemí na sua fazenda nas terras da Bahia.
Assim
Iquemí chegou à Bahia e foi para a fazenda do mercador.
Mas
Iquemí não aceitava ser escravo, o mercador se afeiçoou a Iquemí devido a sua
valentia, sua força e destaque entre os negros, mal sabia que sob a luz da espiritualidade ambos eram almas afins unidos pelo destino.
Iquemí
foi conquistando a amizade do senhor Manoel Joaquim, que só teve um filho que
morreu cedo com a peste, gostava de Iquemí como de um filho e um dia lhe disse:
"-
Negro, tu não tens um nome, um nome verdadeiro, um nome onde vais ser
conhecido, vou pensar como te chamar."
O
mercador adoeceu seriamente, mas antes de morrer batiza Iquemí de Manoel Joaquim de
Luanda, um pedido de Iquemí.
Sua fama
correu por terras, envelhecendo se tornou pai de todos, Pai Manoel Joaquim de
Luanda ou Pai Joaquim D'Angola.
Seu papel
na escravidão foi importantíssimo.
Promovia
a paz entre seus irmãos de cor. Bondoso, Pai Joaquim
recebeu seu primeiro chapéu de palha dado por um bispo da igreja local quando
sua cabeça já era toda branquinha.
Jamais esqueceu sua grande e velha mãe África.
Sérgio Pereira/Kajaide
Orientador Espiritual
Ano de Sàngó/Obá/Lodê
"SOU LUZ!"