sábado, 11 de abril de 2015

QUANDO ÀSÉ NÃO É ÀSE.

 
QUANDO ÀSÉ NÃO É ÀSE.
 
 
 
INTRODUÇÃO
 
Devido a nossa falta de hábito com a ortografia e gramática da língua iorubá, nós, falantes nativos de português, cometemos muitos erros quando tentamos escrevê-la, e na maioria das vezes, não damos importância a detalhes que, para nós, são insignificantes,
mas que aos olhos de um iorubá nativo, o que escrevemos não faz sentido.
Em uma conversa descontraída com um amigo iorubá de Ijebu-Ode, mostrei a ele um jornal voltado para o segmento da religião Orixaísta. Ele começou a folhear, e de repente, parou numa página que trazia a propaganda de uma casa de candomblé. Leu por alguns instantes e começou a rir, disfarçadamente.
Ao olhar a página, verifiquei que estava escrito em letras grandes a seguinte frase: Ilé Àsé Sàngó, sim exatamente com esta grafia.
Sem me dar conta, perguntei qual era o motivo do riso, e ele, esforçando-se por falar, entre risos, disse-me que ali estava escrito, mais ou menos isto: Casa da Menstruação
de Xangô, e explicou: “esse àsé não é axé, é menstruação”. Posteriormente consultei os dicionários de iorubá, e verifiquei que ele tinha razão. Resolvi escrever.
 
O ALFABETO
 
Vogais: AEEIOOU > Fonética: AÊÉIÔÓU
Consoantes : B D F G GB H J K L M N P R S ṣ T W Y
A letra S em português tem o som de X ou CH.
A letra GB existe e não pode ser omitida quando escreve-se iorubá.
Isto é importante.
OS SONS
Os sons podem ser abertos ou fechados. As letras com sons abertos possuem sinal
inferior. As que não possuem tem som fechado.
 Sons fechados: Sons abertos
(è) como em espeto
(e) como em preto
(é) como em bebê
OS TONS
Podem ser descendentes (baixos), ascendentes (altos), ou médios.
 Tons baixos Tons médios Tons altos
(è) como em encher
(ò) como em fosco
(è) como em festa
(ò) como em fossa
O iorubá é uma língua tonal, sendo que a variação do tom implica em outra palavra, com significado diferente ao que se quis dizer, ainda que graficamente parecida. Neste breve estudo usaremos como exemplo a palavra “axé”, pois ela aparece em quase todos os veículos de comunicação, desde os jornais religiosos distribuídos nas lojas de artigos religiosos, à internet.
Para elucidar a questão, transcreveremos dos dicionários de iorubá que dispomos, os verbetes que encontramos não apenas da palavra axé, mas também as palavras ioruba correlatas que podem induzir-nos a erros de ortografia.
Veremos que muitas palavras são realmente parecidas, isto é, são parônimos, motivo pelo qual devemos ficar atentos aos tons, pois são justamente eles que fazem a diferença do sentido.
 
VERBETES ENCONTRADOS POR SEMELHANÇA
 
Neste quadro vemos a palavra iorubá, a pronúncia entre colchetes, em seguida seu significado. Note que muitas pronúncias são parecidíssimas, que facilmente induzem-
nos ao erro.
 – Ààsè [aaxé]: porta larga
 – Àsè [asse]: 1. Ato de cozinhar 2. Avançar 3. Refeição comunitária .
 – Asé [assé]: coador, peneira, filtro.
 – Ase [asse]: um animal da família do esquilo.
 – Àse [axé]: lei, ordem, instrução, comando, força, poder.
 – Àsé [axé]: menstruação (forte entonação aguda na letra “é”).
 – Àsé [axê]: (expressão) to fora!
 – Àsé [assê]: 1. Bloquear, represar 2. Desvio de comportamento .
 – Ásé: [axé]: pássaro noturno. Standardwinged Nightjar (Macrodipteryx Longipennis)
 
CONCLUSÃO
 
Como vimos, a facilidade para errarmos a grafia iorubá da palavra portuguesa “axé”, é
muito grande. Portanto, se tivermos dúvidas, escrevamos em português, que é totalmente aceitável.
Outro erro comum é utilizarmos no mesmo texto, para uma mesma palavra, a grafia iorubá e a portuguesa, alternadamente. É preciso ter um padrão, ou um, ou outro, terminando com aquele que começamos, mas que esteja correto.
 
Àse à todos!
 
BIBLIOGRAFIA
ABRAHAM, R. C. Dictionary of Modern Yoruba, London, Hodder and Stoughton,
1981 [1946]
BENISTE, José. Dicionário Yorubá-Português. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2011.
CMS, A Dictionary of the Yoruba Language, Ibadan, Oxford University Press, 1977
[1913]
FAKINLEDE, Kayode J. Modern Practial Dictionary Yoruba. Hippocrene Books, New
York, 2008.

Nenhum comentário: