Preâmbulo
1. Os Espíritos hão dito sempre: "A forma nada vale, o pensamento é
tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o
toque. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com
as quais nada tenha o coração."
Os Espíritos jamais prescreveram qualquer fórmula absoluta de preces.
Quando dão alguma, é apenas para fixar as idéias e, sobretudo, para
chamar a atenção sobre certos princípios da Doutrina Espírita. Fazem-no
também com o fim de auxiliar os que sentem embaraço para externar suas
idéias, pois alguns há que não acreditariam ter orado realmente, desde
que não formulassem seus pensamentos.
A coletânea de preces, que este capítulo encerra, representa uma
escolha feita entre muitas que os Espíritos ditaram em várias
circunstâncias. Eles, sem dúvida, podem ter ditado outras e em termos
diversos, apropriadas a certas idéias ou a casos especiais; mas, pouco
importa a forma, se o pensamento é essencialmente o mesmo. O objetivo da
prece consiste em elevar nossa alma a Deus; a diversidade das fórmulas
nenhuma diferença deve criar entre os que nele crêem, nem, ainda menos,
entre os adeptos do Espiritismo, porquanto Deus as aceita todas quando
sinceras.
Não há, pois, considerar esta coletânea como um formulário absoluto e
único, mas, apenas, uma variedade no conjunto das instruções que os
Espíritos ministram. E uma aplicação dos princípios da moral evangélica
desenvolvidos neste livro, um complemento aos ditados deles, relativos
aos deveres para com Deus e o próximo, complemento em que são lembrados
todos os princípios da Doutrina.
O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos,
quando ditas de coração e não de lábios somente. Nenhuma impõe, nem
reprova nenhuma. Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a
voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não
de outro. Quem quer que lance anátema às preces que não estejam no seu formulário provará que desconhece a grandeza de Deus. Crer que Deus se atenha a uma fórmula é emprestar-lhe a pequenez e as paixões da Humanidade.
Condição essencial à prece, segundo S. Paulo (cap. XXVII, nº 16), é
que seja inteligível, a fim de que nos possa falar ao espírito. Para
isso, não basta seja dita numa língua que aquele que ora compreenda. Há
preces em língua vulgar que não dizem ao pensamento muito mais do que se
fossem proferidas em língua estrangeira, e que, por isso mesmo, não
chegam ao coração. As raras idéias que elas contêm ficam, as mais das
vezes, abafadas pela superabundância das palavras e pelo misticismo da
linguagem.
A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem
fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que são meros adornos de
lentejoulas. Cada palavra deve ter alcance próprio, despertar uma idéia,
pôr em vibração uma fibra da alma. Numa palavra: deve fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo, não passa de ruído.
Entretanto, notai com que ar distraído e com que volubilidade elas são
ditas na maioria dos casos. Vêem-se lábios a mover-se; mas, pela
expressão da fisionomia, pelo som mesmo da voz, verifica-se que ali
apenas há um ato maquinal, puramente exterior, ao qual se conserva
indiferente a alma.
Estão divididas em cinco categorias as preces constantes nesta
coletânea; 1ª) Preces gerais; 2ª) Preces por aquele mesmo que ora; 3ª)
Preces pelos vivos; 4ª) Preces pelos mortos; 5ª) Preces especiais pelos
enfermos e pelos obsidiados.
Com o propósito de chamar, de maneira especial, a atenção sobre o
objeto de cada prece e de lhe tornar mais compreensível o alcance, vão
todas precedidas de uma instrução preliminar, de uma espécie de
exposição de motivos, sob o titulo de prefácio.
I - PRECES GERAIS
Oração dominical
2. PREFÁCIO. Os Espíritos recomendaram que, encabeçando esta coletânea, puséssemos a Oração dominical,
não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as preces, é a
que eles colocam em primeiro lugar, seja porque procede do próprio
Jesus (S. Mateus, cap. VI, vv. 9 a 13), seja porque pode suprir a todas,
conforme os pensamentos que se lhe conjuguem; é o mais perfeito modelo
de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade na simplicidade. Com
efeito, sob a mais singela forma, ela resume todos os deveres do homem
para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma
profissão de fé, um ato de adoração e de submissão; o pedido das coisas
necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem a diga, em intenção
de alguém, pede para este o que pediria para si.
Contudo, em virtude mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que
encerram as poucas palavras de que ela se compõe escapa à maioria das
pessoas. Daí vem o dizerem-na, geralmente, sem que os pensamentos se
detenham sobre as aplicações de cada uma de suas partes. Dizem-na como
uma fórmula cuja eficácia se ache condicionada ao número de vezes que
seja repetida. Ora, quase sempre esse é um dos números cabalísticos: três, sete ou nove tomados à antiga crença supersticiosa na virtude dos números e de uso nas operações da magia.
Para preencher o que de vago a concisão desta prece deixa na mente, a
cada uma de suas proposições aditamos, aconselhado pelos Espíritos e
com a assistência deles, um comentário que lhes desenvolve o sentido e
mostra as aplicações. Conforme, pois, as circunstâncias e o tempo de que
disponha, poderá, aquele que ore, dizer a oração dominical, ou na sua
forma simples, ou na desenvolvida.
3. PRECE. - I. Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome!
Cremos em ti, Senhor, porque tudo revela o teu poder e a tua bondade.
A harmonia do Universo dá testemunho de uma sabedoria, de uma prudência
e de uma previdência que ultrapassam todas as faculdades humanas. Em
todas as obras da Criação, desde o raminho de erva minúscula e o
pequenino inseto, até os astros que se movem no espaço, o nome se acha
inscrito de um ser soberanamente grande e sábio. Por toda a parte se nos
depara a prova de paternal solicitude. Cego, portanto, é aquele que te
não reconhece nas tuas obras, orgulhoso aquele que te não glorifica e
ingrato aquele que te não rende graças.
II. Venha o teu reino!
Senhor, deste aos homens leis plenas de sabedoria e que lhes dariam a
felicidade, se eles as cumprissem. Com essas leis, fariam reinar entre
si a paz e a justiça e mutuamente se auxiliariam, em vez de se
maltratarem, como o fazem. O forte sustentaria o fraco, em vez de o
esmagar. Evitados seriam os males, que se geram dos excessos e dos
abusos. Todas as misérias deste mundo provêm da violação de tuas leis,
porquanto nenhuma infração delas deixa de ocasionar fatais
conseqüências.
Deste ao bruto o instinto, que lhe traça o limite do necessário, e
ele maquinalmente se conforma; ao homem, no entanto, além desse
instinto, deste a inteligência e a razão; também lhe deste a liberdade
de cumprir ou infringir aquelas das tuas leis que pessoalmente lhe
concernem, isto é, a liberdade de escolher entre o bem e o mal, a fim de
que tenha o mérito e a responsabilidade das suas ações.
Ninguém pode pretextar ignorância das tuas leis, pois, com paternal
previdência, quiseste que elas se gravassem na consciência de cada um,
sem distinção de cultos, nem de nações. Se as violam, é porque as
desprezam.
Dia virá em que, segundo a tua promessa, todos as praticarão.
Desaparecido terá, então, a incredulidade. Todos te reconhecerão por
soberano Senhor de todas as coisas, e o reinado das tuas leis será o teu
reino na Terra.
Digna-te, Senhor, de apressar-lhe o advento, outorgando aos homens a luz necessária, que os conduza ao caminho da verdade.
III. Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu.
Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para
com o seu superior, quão maior não deve ser a da criatura para com o seu
Criador! Fazer a tua vontade, Senhor, é observar as tuas leis e
submeter-se, sem queixumes, aos teus decretos. O homem a ela se
submeterá, quando compreender que és a fonte de toda a sabedoria e que
sem ti ele nada pode. Fará, então, a tua vontade na Terra, como os
eleitos a fazem no Céu.
IV. Dá-nos o pão de cada dia.
Dá-nos o alimento indispensável à sustentação das forças do corpo;
mas, dá-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso
Espírito.
O bruto encontra a sua pastagem; o homem, porém, deve o sustento à
sua própria atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o
criaste livre.
Tu lhe hás dito: "Tirarás da terra o alimento com o suor da tua
fronte." Desse modo, fizeste do trabalho, para ele, uma obrigação, a fim
de que exercitasse a inteligência na procura dos meios de prover às
suas necessidades e ao seu bem-estar, uns mediante o labor manual,
outros pelo labor intelectual. Sem o trabalho, ele se conservaria
estacionário e não poderia aspirar à felicidade dos Espíritos superiores
Ajudas o homem de boa-vontade que em ti confia, pelo que concerne ao
necessário; não, porém, àquele que se compraz na ociosidade e desejara
tudo obter sem esforço, nem àquele que busca o supérfluo. (Cap. XXV.)
Quantos e quantos sucumbem por culpa própria, pela sua incúria, pela
sua imprevidência, ou pela sua ambição e por não terem querido
contentar-se com o que lhes havias concedido! Esses são os artífices do
seu infortúnio e carecem do direito de queixar-se, pois que são punidos
naquilo em que pecaram. Mas, nem a esses mesmos abandonas, porque és
infinitamente misericordioso. As mãos lhes estendes para socorrê-los,
desde que, como o filho pródigo, se voltem sinceramente para ti. (Cap.
V, nº 4.)
Antes de nos queixarmos da sorte, inquiramos de nós mesmos se ela não
é obra nossa. A cada desgraça que nos chegue, cuidemos de saber se não
teria estado em nossas mãos evitá-la. Consideremos também que Deus nos
outorgou a inteligência para tirar-nos do lameiro, e que de nós depende o
modo de a utilizarmos.
Pois que à lei do trabalho se acha submetido o homem na Terra, dá-nos
coragem e forças para obedecer a essa lei. Dá-nos também a prudência, a
previdência e a moderação, a fim de não perdermos o respectivo fruto.
Dá-nos, pois, Senhor, o pão de cada dia, isto é, os meios de
adquirirmos, pelo trabalho, as coisas necessárias à vida, porquanto
ninguém tem o direito de reclamar o supérfluo.
Se trabalhar nos é impossível, à tua divina providência nos confiamos.
Se está nos teus desígnios experimentar-nos pelas mais duras
provações, mau grado aos nossos esforços, aceitamo-las como justa
expiação das faltas que tenhamos cometido nesta existência, ou noutra
anterior, porquanto és justo. Sabemos que não há penas imerecidas e que
jamais castigas sem causa.
Preserva-nos, ó meu Deus, de invejar os que possuem o que não temos,
nem mesmo os que dispõem do supérfluo, ao passo que a nós nos falta o
necessário. Perdoa-lhes, se esquecem a lei de caridade e de amor do
próximo, que lhes ensinaste. (Cap. XVI, nº 8.)
Afasta, igualmente, do nosso espírito a idéia de negar a tua justiça,
ao notarmos a prosperidade do mau e a desgraça que cai por vezes sobre o
homem de bem. Já sabemos, graças às novas luzes que te aprouve
conceder-nos, que a tua justiça se cumpre sempre e a ninguém excetua;
que a prosperidade material do mau é efêmera, quanto a sua existência
corpórea, e que experimentará terríveis reveses, ao passo que eterno
será o júbilo daquele que sofre resignado. (Cap. V, nº 7, nº 9, nº 12 e
nº 18.)
V. Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos que nos devem. - Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam.
Cada uma das nossas infrações às tuas leis, Senhor, é uma ofensa que
te fazemos e uma dívida que contraímos e que cedo ou tarde teremos de
saldar. Rogamos-te que no-las perdoes pela tua infinita misericórdia,
sob a promessa, que te fazemos, de empregarmos os maiores esforços para
não contrair outras.
Tu nos impuseste por lei expressa a caridade; mas, a caridade não
consiste apenas em assistirmos os nossos semelhantes em suas
necessidades; também consiste no esquecimento e no perdão das ofensas.
Com que direito reclamaríamos a tua indulgência, se dela não usássemos
para com aqueles que nos hão dado motivo de queixa?
Concede-nos, ó meu Deus, forças para apagar de nossa alma todo ressentimento, todo ódio e todo rancor. Faze que a morte não nos surpreenda guardando nós no coração desejos de vingança.
Se te aprouver tirar-nos hoje mesmo deste mundo, faze que nos possamos
apresentar, diante de ti, puros de toda animosidade, a exemplo do
Cristo, cujos últimos pensamentos foram em prol dos seus algozes. (Cap.
X.)
Constituem parte das nossas provas terrenas as perseguições que os
maus nos infligem. Devemos, então, recebê-las sem nos queixarmos, como
todas as outras provas, e não maldizer dos que, por suas maldades, nos
rasgam o caminho da felicidade eterna, visto que nos disseste, por
intermédio de Jesus: "Bem-aventurados os que sofrem pela justiça!"
Bendigamos, portanto, a mão que nos fere e humilha, uma vez que as
mortificações do corpo nos fortificam a alma e que seremos exalçados por
efeito da nossa humildade. (Cap. XII, nº 4.) Bendito seja teu nome,
Senhor, por nos teres ensinado que nossa sorte não está irrevogavelmente
fixada depois da morte; que encontraremos, em outras existências, os
meios de resgatar e de reparar nossas culpas passadas, de cumprir em
nova vida o que não podemos fazer nesta, para nosso progresso. (Cap. IV,
e cap. V, nº 5.)
Assim se explicam, afinal, todas as anomalias aparentes da vida. É a
luz que se projeta sobre o nosso passado e o nosso futuro, sinal
evidente da tua justiça soberana e da tua infinita bondade.
VI. Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal. (1)
(1) Algumas traduções dizem: Não nos induzas à tentação
(et ne nos inducas in tentationem). Essa expressão daria a entender que
a tentação promana de Deus, que ele, voluntariamente, impele os homens
ao mal, idéia blasfematória que igualaria Deus a Satanás e que,
portanto, não poderia estar na mente de Jesus. É, aliás, conforme à
doutrina vulgar sobre o papel dos demônios. (Veja-se: O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. IX, "Os demônios".)
Dá-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos Espíritos maus,
que tentem desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
Mas, somos Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar
nossas faltas e melhorar-nos. Em nós mesmos está a causa primária do mal
e os maus Espíritos mais não fazem do que aproveitar os nossos pendores
viciosos, em que nos entretêm para nos tentarem.
Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, ao passo que
são impotentes e renunciam a toda tentativa contra os seres perfeitos. E
inútil tudo o que possamos fazer para afastá-los, se não lhes opusermos
decidida e inabalável vontade de permanecer no bem e absoluta
renunciação ao mal. Contra nós mesmos, pois, é que precisamos dirigir os
nossos esforços e, se o fizermos, os maus Espíritos naturalmente se
afastarão, porquanto o mal é que os atrai, ao passo que o bem os repele.
(Veja-se aqui adiante: "Preces pelos obsidiados".)
Senhor, ampara-nos em nossa fraqueza; inspira-nos, pelos nossos anjos
guardiães e pelos bons Espíritos, a vontade de nos corrigirmos de todas
as imperfeições a fim de obstarmos aos Espíritos maus o acesso à nossa
alma. (Veja-se aqui adiante o nº 11.)
O mal não é obra tua, Senhor, porquanto o manancial de todo o bem
nada de mau pode gerar. Somos nós mesmos que criamos o mal, infringindo
as tuas leis e fazendo mau uso da liberdade que nos outorgaste. Quando
os homens as cumprirmos, o mal desaparecerá da Terra, como já
desapareceu de mundos mais adiantados que o nosso.
O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal e só parece
irresistível aos que nele se comprazem. Desde que temos vontade para o
fazer, também podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus,
pedimos a tua assistência e a dos Espíritos bons, a fim de resistirmos à
tentação.
VII. Assim seja.
Praza-te, Senhor, que os nossos desejos se efetivem. Mas, curvamo-nos
perante a tua sabedoria infinita. Que em todas as coisas que nos
escapam à compreensão se faça a tua santa vontade e não a nossa, pois
somente queres o nosso bem e melhor do que nós sabes o que nos convém.
Dirigimos-te esta prece, ó Deus, por nós mesmos e também por todas as
almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, pelos nossos amigos e
inimigos, por todos os que solicitem a nossa assistência e, em
particular, por N...
Para todos suplicamos a tua misericórdia e a tua bênção.
Nota - Aqui, podem formular-se os agradecimentos que se queiram
dirigir a Deus e o que se deseje pedir para si mesmo ou para outrem.
(Vejam-se, adiante, as preces nº 26 e nº 27.)
Reuniões espíritas
4. Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei. (S. MATEUS, cap. XVIII, v. 20.)
5. PREFÁCIO. Estarem reunidas, em nome de Jesus, duas, três ou
mais pessoas, não quer dizer que basta se achem materialmente juntas. É
preciso que o estejam espiritualmente, em comunhão de intentos e de
idéias, para o bem. Jesus, então, ou os Espíritos puros, que o
representam, se encontrarão na assembléia, O Espiritismo nos faz
compreender como podem os Espíritos achar-se entre nós. Comparecem com
seu corpo fluídico ou espiritual e sob a aparência que nos levaria a
reconhecê-los, se se tornassem visíveis. Quanto mais elevados são na
hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder de irradiação. É
assim que possuem o dom da ubiqüidade e que podem estar simultaneamente
em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um desses
lugares um raio de suas mentes.
Dizendo as palavras acima transcritas, quis Jesus revelar o efeito da
união e da fraternidade. O que o atrai não é o maior ou menor número de
pessoas que se reúnam, pois, em vez de duas ou três, houvera ele podido
dizer dez ou vinte, mas o sentimento de caridade que reciprocamente as
anime. Ora, para isso, basta que elas sejam duas. Contudo, se essas duas
pessoas oram cada uma por seu lado, embora dirigindo-se ambas a Jesus,
não há entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo se ali não estão
sob o influxo de um sentimento de mútua benevolência. Se se olham com
prevenção, com ódio, inveja ou ciúme, as correntes fluídicas de seus
pensamentos, longe de se conjugarem por um comum impulso de simpatia,
repelem-se. Nesse caso, não estarão reunidas em nome de Jesus, que, então, não passa de pretexto para a reunião, não o tendo esta por verdadeiro motivo. (Cap. XXVII, nº 9.)
Isso não significa que ele se mostre surdo ao que lhe diga uma única
pessoa; e se ele não disse: "Atenderei a todo aquele que me chamar", é
que, antes de tudo, exige o amor do próximo; e desse amor mais provas
podem dar-se quando são muitos os que exoram, com exclusão de todo
sentimento pessoal, e não um apenas. Segue-se que, se, numa assembléia
numerosa, somente duas ou três pessoas se unem de coração, pelo
sentimento de verdadeira caridade, enquanto as outras se isolam e se
concentram em pensamentos egoísticos ou mundanos, ele estará com as
primeiras e não com as outras. Não é, pois, a simultaneidade das
palavras, dos cânticos ou dos atos exteriores que constitui a reunião em
nome de Jesus, mas a comunhão de pensamentos, em concordância com o
espírito de caridade que ele personifica. (Capítulo X, nº 7 e nº 8; cap.
XXVII, nº 2 a nº 4.)
Tal o caráter de que devem revestir-se as reuniões espíritas sérias,
aquelas em que sinceramente se deseja o concurso dos bons Espíritos.
6. Prece. (Para o começo da reunião.) - Ao Senhor Deus
onipotente suplicamos que envie, para nos assistirem, Espíritos bons;
que afaste os que nos possam induzir em erro e nos conceda a luz
necessária para distinguirmos da impostura a verdade.
Afasta, igualmente, Senhor, os Espíritos malfazejos, encarnados e
desencarnados, que tentem lançar entre nós a discórdia e desviar-nos da
caridade e do amor ao próximo. Se procurarem alguns deles introduzir-se
aqui, faze não achem acesso no coração de nenhum de nós.
Bons Espíritos que vos dignais de vir instruir-nos, tornai-nos dóceis
aos vossos conselhos; preservai-nos de toda idéia de egoísmo, orgulho,
inveja e ciúme; inspirai-nos indulgência e benevolência para com os
nossos semelhantes, presentes e ausentes, amigos ou inimigos; fazei, em
suma, que, pelos sentimentos de que nos achemos animados, reconheçamos a
vossa influência salutar.
Dai aos médiuns que escolherdes para transmissores dos vossos
ensinamentos, consciência do mandato que lhes é conferido e da gravidade
do ato que vão praticar, a fim de que o façam com o fervor e o
recolhimento precisos.
Se, em nossa reunião, estiverem pessoas que tenham vindo impelidas
por sentimentos outros que não os do bem, abri-lhes os olhos à luz e
perdoai-lhes, como nós lhes perdoamos, se trouxerem malévolas intenções.
Pedimos, especialmente, ao Espírito N..., nosso guia espiritual, que nos assista e por nós vele.
7. (Para o fim da reunião.) - Agradecemos aos bons Espíritos que se
dignaram de comunicar-se conosco e lhes rogamos que nos ajudem a pôr em
prática as instruções que nos deram e façam que, ao sair daqui, cada um
de nós se sinta fortalecido para a prática do bem e do amor ao próximo.
Também desejamos que as suas instruções aproveitem aos Espíritos
sofredores, ignorantes ou viciosos, que tenham participado da nossa
reunião e para os quais imploramos a misericórdia de Deus.
Para os médiuns
8. Nos últimos tempos, diz o Senhor, difundirei do meu Espírito
sobre toda carne; vossos filhos e filhas profetizarão; vossos jovens
terão visões e vossos velhos, sonhos. Nesses dias, difundirei do meu
Espírito sobre os meus servidores e servidoras, e eles profetizarão.
(Atos, cap. II, vv. 17 e 18.) (1)
(1) Confrontando o v. 18 de Atos, cap. II com o
correspondente de Joel, II, 29, notamos que, na transcrição da profecia
para o Novo Testamento, há uma diferença: Pela profecia, trata-se de
servos e servas (escravos e escravas) dos homens e não de Deus, como se
acha na transcrição. Eis o texto dosversículos, nas duas traduções mais
modernas e fiéis: a Brasileira e a do Esperanto, as quais estão deacordo
também com a Inglesa:
Joel, II, 29: "Também sobre os servos e sobre as
servas naqueles dias derramarei o meu Espírito"- Atos,, II, 18: "E,
sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito
naqueles dias, e profetizarão."
Na tradução em Esperanto ainda está mais claro que
se trata até dos escravos e escravas dos homens, e não de servos de
Deus. Ei-la: "Joel, II, 29: Ec sur la sklavojn kaj sur la sklavinoju Mi
en tiutempo el versos Mian Spiriton!" - Atos, II, 18: "Kaj eê sur Miajn
sklavojn kaj Miajn sklavinojn en tiutempo Mi elversos Mian spiriton, kaj
ili profetos."
Até os escravos e escravas (dos homens) receberão o
Espírito, não somente os servos e servas de Deus (sacerdotes e
sacerdotisas). A profecia em sua forma original está-se cumprindo em
nossos dias porque a mediunidade brota em todas as classes, até nas
pessoas mais humildes e obscuras, e não somente, como faz supor o texto
de Atos, entre os sacerdotes (servos de Deus). - Nota da Editora da FEB,
em 1947.
9. PREFÁCIO. Quis o Senhor que a luz se fizesse para todos os
homens e que em toda a parte penetrasse a voz dos Espíritos, a fim de
que cada um pudesse obter a prova da imortalidade. Com esse objetivo é
que os Espíritos se manifestam hoje em todos os pontos da Terra e a
mediunidade se revela em pessoas de todas as idades e de todas as
condições, nos homens como nas mulheres, nas crianças como nos velhos. É
um dos sinais de que chegaram os tempos preditos.
Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da
Natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e
instrumentos especiais. Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas
profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o mundo dos
infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a
mediunidade.
Os médiuns são os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens os ensinos dos Espíritos; ou, melhor, são os órgãos materiais de que se servem os Espíritos para se expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é a missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.
Os Espíritos vêm instruir o homem sobre seus destinos, a fim de o
reconduzirem à senda do bem, e não para o pouparem ao trabalho material
que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por meta o seu adiantamento,
nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. Aí têm os médiuns o de
que devem compenetrar-se bem, para não fazerem mau uso de suas
faculdades. Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que
se acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe
profligaria, como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o põem em comunicação com os seres de além-túmulo.
Como intérpretes do ensino dos Espíritos, têm os médiuns de
desempenhar importante papel na transformação moral que se opera. Os
serviços que podem prestar guardam proporção com a boa diretriz que
imprimam às suas faculdades, porquanto os que enveredam por mau caminho
são mais nocivos do que úteis à causa do Espiritismo. Pela má impressão
que produzem, mais de uma conversão retardam. Terão, por isso mesmo, de
dar contas do uso que hajam feito de um dom que lhes foi concedido para o
bem de seus semelhantes.
O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos
tem de trabalhar por melhorar-se. O que deseja que a sua faculdade se
desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster
de tudo o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial.
Se, às vezes, os Espíritos bons se servem de médiuns imperfeitos, é
para dar bons conselhos, com os quais procuram fazê-los retomar a
estrada do bem. Se, porém, topam com corações endurecidos e se suas
advertências não são escutadas, afastam-se, ficando livre o campo aos
maus. (Cap. XXIV, n° 11 e 12.)
Prova a experiência que, da parte dos que não aproveitam os conselhos
que recebem dos bons Espíritos, as comunicações, depois de terem
revelado certo brilho durante algum tempo, degeneram pouco a pouco e
acabam caindo no erro, na vertigem, ou no ridículo, sinal incontestável
do afastamento dos bons Espíritos.
Conseguir a assistência destes, afastar os Espíritos levianos e
mentirosos tal deve ser a meta para onde convirjam os esforços
constantes de todos os médiuns sérios. Sem isso, a mediunidade se torna
uma faculdade estéril, capaz mesmo de redundar em prejuízo daquele que a
possua, pois pode degenerar em perigosa obsessão.
O médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma
faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui
a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem
elogios, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do
seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu
intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não
se ofende, porque não obra do seu próprio Espírito. Ao contrário,
reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe
de todas as qualidades necessárias a obstar a imiscuência dos Espíritos
maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da
prece, as forças que lhe faltam.
10. Prece. - Deus onipotente, permite que os bons
Espíritos me assistam na comunicação que solicito. Preserva-me da
presunção de me julgar resguardado dos Espíritos maus; do orgulho que me
induza em erro sobre o valor do que obtenha; de todo sentimento oposto à
caridade para com outros médiuns. Se cair em erro, inspira a alguém a
idéia de me advertir disso e a mim a humildade que me faça aceitar
reconhecido a crítica e tomar como endereçados a mim mesmo, e não aos
outros, os conselhos que os bons Espíritos me queiram ditar.
Se for tentado a cometer abuso, no que quer que seja, ou a me
envaidecer da faculdade que te aprouve conceder-me, peço que ma retires,
de preferência a consentires seja ela desviada do seu objetivo
providencial, que é o bem de todos e o meu próprio avanço moral.
II - PRECES POR AQUELE MESMO QUE ORA
Aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores
11. PREFÁCIO. Todos temos, ligado a nós, desde o nosso
nascimento, um Espírito bom, que nos tomou sob a sua proteção.
Desempenha, junto de nós, a missão de um pai para com seu filho: a de
nos conduzir pelo caminho do bem e do progresso, através das provações
da vida. Sente-se feliz, quando correspondemos à sua solicitude; sofre,
quando nos vê sucumbir.
Seu nome pouco importa, pois bem pode dar-se que não tenha nome
conhecido na Terra. Invocamo-lo, então, como nosso anjo guardião, nosso
bom gênio. Podemos mesmo invocá-lo sob o nome de qualquer Espírito
superior, que mais viva e particular simpatia nos inspire.
Além do Anjo guardião, que é sempre um Espírito superior, temos
Espíritos protetores que, embora menos elevados, não são menos bons e
magnânimos. Contamo-los entre amigos, ou parentes, ou, até, entre
pessoas que não conhecemos na existência atual. Eles nos assistem com
seus conselhos e, não raro, intervindo nos atos da nossa vida.
Espíritos simpáticos são os que se nos ligam por uma certa analogia
de gostos e pendores. Podem ser bons ou maus, conforme a natureza das
inclinações nossas que os atraiam.
Os Espíritos sedutores se esforçam por nos afastar das veredas do
bem, sugerindo-nos maus pensamentos. Aproveitam-se de todas as nossas
fraquezas, como de outras tantas portas abertas, que lhes facultam
acesso à nossa alma. Alguns há que se nos aferram, como a uma presa, mas
que se afastam, em se reconhecendo impotentes para lutar contra a nossa vontade.
Deus, em o nosso anjo guardião, nos deu um guia principal e superior
e, nos Espíritos protetores e familiares, guias secundários. Fora erro,
porém, acreditarmos que forçosamente, temos um mau gênio ao nosso lado, para contrabalançar as boas influências que sobre nós se exerçam. Os maus Espíritos acorrem voluntariamente,
desde que achem meio de assumir predomínio sobre nós, ou pela nossa
fraqueza, ou pela negligência que ponhamos em seguir as inspirações dos
bons Espíritos. Somos nós, portanto, que os atraímos. Resulta desse fato
que jamais nos encontramos privados da assistência dos bons Espíritos e
que de nós depende o afastamento dos maus. Sendo, por suas
imperfeições, a causa primária das misérias que o afligem, o homem é, as
mais das vezes, o seu próprio mau gênio. (Cap. V, nº 4.)
A prece aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores deve ter por
objeto solicitar-lhes a intercessão junto de Deus, pedir-lhes a força de
resistir às más sugestões e que nos assistam nas contingências da vida.
12. Prece. - Espíritos esclarecidos e benevolentes,
mensageiros de Deus, que tendes por missão assistir os homens e
conduzi-los pelo bom caminho, sustentai-me nas provas desta vida; dai-me
a força de suportá-la sem queixumes; livrai-me dos maus pensamentos e
fazei que eu não dê entrada a nenhum mau Espírito que queira induzir-me
ao mal. Esclarecei a minha consciência com relação aos meus defeitos e
tirai-me de sobre os olhos o véu do orgulho, capaz de impedir que eu os
perceba e os confesse a mim mesmo.
A ti sobretudo, N..., meu anjo guardião, que mais particularmente
velas por mim, e a todos vós, Espíritos protetores, que por mim vos
interessais, peço fazerdes que me torne digno da vossa proteção.
Conheceis as minhas necessidades; sejam elas atendidas, segundo a
vontade de Deus.
13. (Outra) - Meu Deus, permite que os bons Espíritos que me cercam
venham em meu auxílio, quando me achar em sofrimento, e que me sustentem
se desfalecer. Faze, Senhor, que eles me incutam fé, esperança e
caridade; que sejam para mim um amparo, uma inspiração e um testemunho
da tua misericórdia. Faze, enfim, que neles encontre eu a força que me
falta nas provas da vida e, para resistir às inspirações do mal, a fé
que salva e o amor que consola.
14. (Outra) - Espíritos bem-amados, anjos guardiães que, com a
permissão de Deus, pela sua infinita misericórdia, velais sobre os
homens, sede nossos protetores nas provas da vida terrena. Dai-nos
força, coragem e resignação; inspirai-nos tudo o que é bom, detende-nos
no declive do mal; que a vossa bondosa influência nos penetre a alma;
fazei sintamos que um amigo devotado está ao nosso lado, que vê os
nossos sofrimentos e partilha das nossas alegrias.
E tu, meu bom anjo, não me abandones. Necessito de toda a tua
proteção, para suportar com fé e amor as provas que praza a Deus
enviar-me.
Para afastar os maus Espíritos
15. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais por
fora o copo e o prato e estais, por dentro, cheios de rapinas e
impurezas. - Fariseus cegos, limpai primeiramente o interior do copo e
do prato, a fim de que também o exterior fique limpo. - Ai de vós,
escribas e fariseus hipócritas, que vos assemelhais a sepulcros
branqueados, que por fora parecem belos aos olhos dos homens, mas que,
por dentro, estão cheios de toda espécie de podridões. - Assim, pelo
exterior, pareceis justos aos olhos dos homens, mas, por dentro, estais
cheios de hipocrisia e de iniquidades. (S. MATEUS, cap. XXIII, vv. 25 a
28.)
16. PREFÁCIO. Os maus Espíritos somente procuram os lugares
onde encontrem possibilidades de dar expansão à sua perversidade. Para
os afastar, não basta pedir-lhes, nem mesmo ordenar-lhes que se vão; é
preciso que o homem elimine de si o que os atrai. Os Espíritos maus
farejam as chagas da alma, como as moscas farejam as chagas do
corpo. Assim como se limpa o corpo, para evitar a bicheira, também se
deve limpar de suas impurezas a alma, para evitar os maus Espíritos.
Vivendo num mundo onde estes pululam, nem sempre as boas qualidades do
coração nos põem a salvo de suas tentativas; dão, entretanto, forças
para que lhes resistamos.
17. Prece. - Em nome de Deus Todo-Poderoso, afastem-se de mim os maus Espíritos, servindo-me os bons de antemural contra eles.
Espíritos malfazejos, que inspirais maus pensamentos aos homens;
Espíritos velhacos e mentirosos, que os enganais; Espíritos zombeteiros,
que vos divertis com a credulidade deles, eu vos repilo com todas as
forças de minha alma e fecho os ouvidos às vossas sugestões; mas,
imploro para vós a misericórdia de Deus.
Bons Espíritos que vos dignais de assistir-me, dai-me a força de
resistir à influência dos Espíritos maus e as luzes de que necessito
para não ser vítima de suas tramas. Preservai-me do orgulho e da
presunção; isentai o meu coração do ciúme, do ódio, da malevolência, de
todo sentimento contrário à caridade, que são outras tantas portas
abertas ao Espírito do mal.
Para pedir a corrigenda de um defeito
18. PREFÁCIO. Os nossos maus instintos resultam da imperfeição
do nosso próprio Espírito e não da nossa organização física; a não ser
assim, o homem se acharia isento de toda espécie de responsabilidade. De
nós depende a nossa melhoria, pois todo aquele que se acha no gozo de
suas faculdades tem, com relação a todas as coisas, a liberdade de fazer
ou de não fazer. Para praticar o bem, de nada mais precisa senão do
querer. (Cap. XV, nº 10; cap. XIX, nº 12.)
19. Prece. - Deste-me, ó meu Deus, a inteligência necessária a
distinguir o que é bem do que é mal. Ora, do momento em que reconheço
que uma coisa é mal, torno-me culpado, se não me esforçar por lhe
resistir.
Preserva-me do orgulho que me poderia impedir de perceber os meus
defeitos e dos maus Espíritos que me possam incitar a perseverar neles.
Entre as minhas imperfeições, reconheço que sou particularmente
propenso a...; e, se não resisto a esse pendor, é porque contrai o
hábito de a ele ceder.
Não me criaste culpado, pois que és justo, mas com igual aptidão para
o bem e para o mal; se tomei o mau caminho, foi por efeito do meu
livre-arbítrio. Todavia, pela mesma razão que tive a liberdade de fazer o
mal tenho a de fazer o bem e, conseguintemente, a de mudar de caminho.
Meus atuais defeitos são restos das imperfeições que conservei das
minhas precedentes existências; são o meu pecado original, de que me
posso libertar pela ação da minha vontade e com a ajuda dos Espíritos
bons.
Bons Espíritos que me protegeis, e sobretudo tu, meu anjo da guarda,
dai-me forças para resistir às más sugestões e para sair vitorioso da
luta.
Os defeitos são barreiras que nos separam de Deus e cada um que eu
suprima será um passo dado na senda do progresso que dele me há de
aproximar.
O Senhor, em sua infinita misericórdia, houve por bem conceder-me a
existência atual, para que servisse ao meu adiantamento. Bons Espíritos,
ajudai-me a aproveitá-la, para que me não fique perdida e para que,
quando ao Senhor aprouver ma retirar, eu dela saia melhor do que entrei.
(Cap. V, n° 5; cap. XVII, n° 3.)
Para pedir a força de resistir a uma tentação
20. PREFÁCIO. Duas origens pede ter qualquer pensamento mau: a
própria imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre
ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza que
nos sujeita a receber essa influência; há, por conseguinte, indício de
uma alma imperfeita. De sorte que aquele que venha a falir não poderá
invocar por escusa a influência de um Espírito estranho, visto que esse Espírito não o teria arrastado ao mal, se o considerasse inacessível à sedução.
Quando surge em nós um mau pensamento, podemos, pois, imaginar um
Espírito maléfico a nos atrair para o mal, mas a cuja atração podemos
ceder ou resistir, como se se tratara das solicitações de uma pessoa
viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar que, por seu lado, o nosso anjo
guardião, ou Espírito protetor, combate em nós a influência e espera com
ansiedade a decisão que tomemos. A nossa hesitação em praticar o mal é a voz do Espírito bom, a se fazer ouvir pela nossa consciência.
Reconhece-se que um pensamento é mau, quando se afasta da caridade,
que constitui a base da verdadeira moral, quando tem por princípio o
orgulho, a vaidade, ou o egoísmo; quando a sua realização pode causar
qualquer prejuízo a outrem; quando, enfim, nos induz a fazer aos outros o
que não quereríamos que nos fizessem. (Cap. XXVIII, n° 15; cap. XV, nº
10.)
21. Prece. - Deus Todo-Poderoso, não me deixes sucumbir à
tentação que me impele a falir. Espíritos benfazejos, que me protegeis,
afastai de mim este mau pensa mento e dai-me a força de resistir à
sugestão do mal. Se eu sucumbir, merecerei expiar a minha falta nesta
vida e na outra, porque tenho a liberdade de escolher.
Ação de graças pela vitória alcançada sobre uma tentação
22. PREFÁCIO. Aquele que resistiu a uma tentação deve-o à
assistência dos bons Espíritos, a cuja voz atendeu. Cumpre-lhe
agradecê-lo a Deus e ao seu anjo de guarda.
23. Prece. - Meu Deus, agradeço-te o haveres permitido eu
saísse vitorioso da luta que acabo de sustentar contra o mal. Faze que
essa vitória me dê a força de resistir a novas tentações.
E a ti, meu anjo guardião, agradeço a assistência com que me valeste.
Possa a minha submissão aos teus conselhos granjear-me de novo a tua
proteção!
Para pedir um conselho
24. PREFÁCIO. Quando estamos indecisos sobre o fazer ou não
fazer uma coisa, devemos antes de tudo propor-nos a nós mesmos as
questões seguintes:
1ª - Aquilo que eu hesito em fazer pode acarretar qualquer prejuízo a outrem?
2ª - Pode ser proveitoso a alguém?
3ª - Se agissem assim comigo, ficaria eu satisfeito?
Se o que pensamos fazer, somente a nós nos interessa, licito nos é
pesar as vantagens e os inconvenientes pessoais que nos possam advir.
Se interessa a outrem e se, resultando em bem para um, redundará em
mal para outro, cumpre, igualmente, pesemos a soma de bem ou de mal que
Se produzirá, para nos decidirmos a agir, ou a abster-nos.
Enfim, mesmo em se tratando das melhores coisas, importa ainda
consideremos a oportunidade e as circunstâncias concomitantes, porquanto
uma coisa boa, em si mesma, pode dar maus resultados em mãos inábeis,
se não for conduzida com prudência e circunspecção. Antes de
empreendê-la, convém consultemos as nossas forças e meios de execução.
Em todos os casos, sempre podemos solicitar a assistência dos nossos Espíritos protetores, lembrados desta sábia advertência: Na dúvida, abstém-te. (Cap. XXVIII, nº 38.)
25. Prece. - Em nome de Deus Todo-Poderoso, inspirai-me, bons
Espíritos que me protegeis, a melhor resolução a ser tomada na incerteza
em que me encontro. Encaminhai meu pensamento para o bem e livrai-me da
influência dos que tentarem transviar-me.
Nas aflições da vida.
26. PREFÁCIO. Podemos pedir a Deus favores terrenos e Ele
no-los pode conceder, quando tenham um fim útil e sério. Mas, como a
utilidade das coisas sempre a julgamos do nosso ponto de vista e como as
nossas vistas se circunscrevem ao presente, nem sempre vemos o lado mau
do que desejamos, Deus, que vê muito melhor do que nós e que só o nosso
bem quer, pode recusar o que pecamos, como um pai nega ao filho o que
lhe seja prejudicial. Se não nos é concedido o que pedimos, não devemos
por isso entregar-nos ao desânimo; devemos pensar, ao contrário, que a
privação do que desejamos nos é imposta como prova, ou como expiação, e
que a nossa recompensa será proporcionada à resignação com que a
houvermos suportado. (Cap. XXVII, nº 6; cap. II, nº 5 a nº 7.)
27. Prece. - Deus Onipotente, que vês as nossas misérias,
digna-te de escutar, benevolente, a súplica que neste momento te dirijo.
Se é desarrazoado o meu pedido, perdoa-me; se é justo e conveniente
segundo as tuas vistas, que os bons Espíritos, executores das tuas
vontades, venham em meu auxílio para que ele seja satisfeito.
Como quer que seja, meu Deus, faça-se a tua vontade. Se os meus
desejos não forem atendidos, é que está nos teus desígnios
experimentar-me e eu me submeto sem me queixar.
Faze que por isso nenhum desânimo me assalte e que nem a minha fé nem a minha resignação sofram qualquer abalo.
(Formular o pedido.)
Ação de graças por um favor obtido
28. PREFÁCIO. Não se devem considerar como sucessos ditosos
apenas o que seja de grande importância. Muitas vezes, coisas
aparentemente insignificantes são as que mais influem em nosso destino. O
homem facilmente esquece o bem, para, de preferência, lembrar-se do que
o aflige. Se registrássemos, dia a dia, os benéficos de que somos
objeto, sem os havermos pedido, ficaríamos, com freqüência, espantados
de termos recebido tantos e tantos que se nos varreram da memória, e nos
sentiríamos humilhados com a nossa ingratidão.
Todas as noites, ao elevarmos a Deus a nossa alma, devemos recordar
em nosso íntimo os favores que Ele nos fez durante o dia e
agradecer-lhos. Sobretudo no momento mesmo em que experimentamos o
efeito da sua bondade e da sua proteção, é que nos cumpre, por um
movimento espontâneo, testemunhar-lhe a nossa gratidão. Basta, para
isso, que lhe dirijamos um pensamento, atribuindo-lhe o benefício, sem
que se faça mister interrompamoso nosso trabalho.
Não consistem os benefícios de Deus unicamente em coisas materiais.
Devemos também agradecer-lhe as boas idéias, as felizes inspirações que
recebemos. Ao passo que o egoísta atribui tudo isso aos seus méritos
pessoais e o incrédulo ao acaso, aquele que tem fé rende graças a Deus e
aos bons Espíritos. São desnecessárias, para esse efeito, longas
frases. "Obrigado, meu Deus, pelo bom pensamento que me foi inspirado",
diz mais do que multas palavras. O impulso espontâneo, que nos faz
atribuir a Deus o que de bom nos sucede, dá testemunho de um ato de
reconhecimento e de humildade, que nos granjeia a simpatia dos bons
Espíritos. (Cap. XXVII, nº 7 e nº 8.)
29. Prece. - Deus infinitamente bom, que o teu nome
seja bendito pelos benéficos que me hás concedido. Indigno eu seria, se
os atribuísse ao acaso dos acontecimentos, ou ao meu próprio mérito.
Bons Espíritos, que fostes os executores das vontades de Deus,
agradeço-vos e especialmente a ti, meu Anjo Guardião. Afastai de mim a
idéia de orgulhar-me do que recebi e de não o aproveitar somente para o
bem.
Agradeço-vos, em particular,...
Ato de submissão e de resignação
30. PREFÁCIO. Quando um motivo de aflição nos advém, se lhe
procurarmos a causa, amiúde reconheceremos estar numa imprudência ou
imprevidência nossa, ou, quando não, em um ato anterior. Em qualquer
desses casos, só de nós mesmos nos devemos queixar. Se a causa de um
infortúnio independe completamente de qualquer ação nossa, é ou uma
prova para a existência atual, ou expiação de falta de uma existência
anterior, caso, este último, em que, pela natureza da expiação,
poderemos conhecer a natureza da falta, visto que somos sempre punidos
por aquilo em que pecamos. (Cap. V, nº 4, nº 6 e seguintes.)
No que nos aflige, só vemos, em geral, o presente e não as ulteriores
conseqüências favoráveis que possa ter a nossa aflição. Muitas vezes, o
bem é a conseqüência de um mal passageiro, como a cura de uma
enfermidade é o resultado dos meios dolorosos que se empregaram para
combatê-la, Em todos os casos devemos submeter-nos à vontade de Deus,
suportar com coragem as tribulações da vida, se queremos que elas nos
sejam levadas em conta e que se nos possam aplicar estas palavras do
Cristo: "Bem-aventurados os que sofrem." (Cap. V, nº 18.)
31. Prece. - Meu Deus, és soberanamente justo; todo
sofrimento, neste mundo, há, pois, de ter a sua causa e a sua utilidade.
Aceito a aflição que acabo de experimentar, como expiação de minhas
faltas passadas e como prova para o futuro.
Bons Espíritos que me protegeis, dai-me forças para suportá-la sem
lamentos. Fazei que ela me seja um aviso salutar; que me acresça a
experiência; que abata em mim o orgulho, a ambição, a tola vaidade e o
egoísmo, e que contribua assim para o meu adiantamento.
32. (Outra) - Sinto, ó meu Deus, necessidade de te pedir me
dês forças para suportar as provações que te aprouve destinar-me.
Permite que a luz se faça bastante viva em meu espírito, para que eu
aprecie toda a extensão de um amor que me aflige porque me quer salvar.
Submeto-me resignado, ó meu Deus; mas, a criatura é tão fraca, que temo
sucumbir, se me não amparares. Não me abandones, Senhor, que sem ti nada
posso.
33. (Outra) - A ti, dirigi o meu olhar, ó Eterno, e me senti
fortalecido. Es a minha força, não me abandones. O meu Deus, sinto-me
esmagado sob o peso das minhas iniquidades. Ajuda-me. Conheces a
fraqueza da minha carne, não desvies de mim o teu olhar!
Ardente sede me devora; faze brotar a fonte da água viva onde eu me
dessedente. Que a minha boca só se abra para te entoar louvores e não
para soltar queixas nas aflições da minha vida. Sou fraco, Senhor, mas o
teu amor me sustentará.
Ó Eterno, só tu és grande, só tu és o fim e o objetivo da minha vida!
Bendito seja o teu nome, se me fazes sofrer, porquanto és o Senhor e eu
o servo infiel. Curvarei a fronte sem me queixar, porquanto só tu és
grande, só tu és a meta.
Num perigo iminente
34. PREFÁCIO. Pelos perigos que corremos, Deus nos adverte da
nossa fraqueza e da fragilidade da nossa existência. Mostra-nos que
entre suas mãos está a nossa vida e que ela se acha presa por um fio que
Se pode romper no momento em que menos o esperamos. Sob esse aspecto,
não há privilégio para ninguém, pois que às mesmas alternativas se
encontram sujeitos assim o grande, como o pequeno.
Se examinarmos a natureza e as conseqüências do perigo, veremos que
estas, as mais das vezes, se se verificassem, teriam sido a punição de
uma falta cometida, ou da falta do cumprimento de um dever.
35. Prece. - Deus Todo-Poderoso, e tu, meu anjo
guardião, socorrei-me! Se tenho de sucumbir, que a vontade de Deus se
cumpra. Se devo ser salvo, que o restante da minha vida repare o mal que
eu haja feito e do qual me arrependo.
Ação de graças por haver escapado a um perigo
36. PREFÁCIO. Pelo perigo que tenhamos corrido, mostra-nos
Deus que, de um momento para outro, podemos ser chamados a prestar
contas do modo por que utilizamos a vida. Avisa-nos, assim, que devemos
tomar tento e emendar-nos.
37. Prece. - Meu Deus, meu anjo de guarda, agradeço-vos
o socorro que me proporcionastes no perigo de que estive ameaçado. Seja
para mim um aviso esse perigo e me esclareça sobre as faltas que me
hajam colocado sob a sua ameaça. Compreendo, Senhor, que nas tuas mãos
está a minha vida e que ma podes tirar, quando te apraza. Inspira-me,
por intermédio dos bons Espíritos que me assistem, o propósito de
empregar utilmente o tempo que ainda me concederes de vida neste mundo.
Meu Anjo Guardião, firma-me na resolução que tomo de reparar os meus
erros e de fazer todo o bem que esteja ao meu alcance, a fim de chegar
menos onerado de imperfeições ao mundo dos Espíritos, quando Deus
determine o meu regresso para lá.
À hora de dormir
38. PREFÁCIO. O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o
Espírito, porém, não precisa de repousar. Enquanto os sentidos físicos
se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da matéria e entra
no gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem para
reparação das forças orgânicas e também para a das forças morais.
Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu por efeito da
atividade da vigília, o Espírito vai retemperar-se entre os outros
Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos conselhos que lhe dão,
idéias que, ao despertar, lhe surgem em estado de intuição. É a volta
temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É o prisioneiro
restituído por momentos à liberdade.
Mas, como se dá com o presidiário perverso, acontece que nem sempre o
Espírito aproveita dessa hora de liberdade para seu adiantamento. Se
conserva instintos maus, em vez de procurar a companhia de Espíritos
bons, busca a de seus iguais e vai visitar os lugares onde possa dar
livre curso aos seus pendores.
Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta verdade, o seu
pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e peça o conselho
dos bons Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a fim de que
venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são
concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais
corajoso diante da adversidade.
39. Prece. - Minha alma vai estar por alguns instantes com os
outros Espíritos. Venham os bons ajudar-me com seus conselhos. Faze, meu
anjo guardião, que, ao despertar, eu conserve durável e salutar
impressão desse convívio.
Prevendo próxima a morte
40. PREFÁCIO. A fé no futuro, a orientação do pensamento,
durante a vida, para os destinos vindouros, favorecem e aceleram o
desligamento do Espírito, por enfraquecerem os laços que o prendem ao
corpo, tanto que, freqüentemente, a vida corpórea ainda se não extinguiu
de todo, e a alma, impaciente, já alçou o vôo para a imensidade. Ao
contrário, no homem que concentra nas coisas materiais todos os seus
cuidados, aqueles laços são mais tenazes, penosa e dolorosa é a separação e cheio de perturbação e ansiedade o despertar no além-túmulo.
41. Prece. - Meu Deus, creio em ti e na tua bondade infinita
e, por isso mesmo, não posso crer hajas dado ao homem a inteligência,
que lhe faculta conhecer-te, e a aspiração pelo futuro, para o
mergulhares no nada.
Creio que o meu corpo é apenas o envoltório perecível de minha alma e
que, quando eu tenha deixado de viver, acordarei no mundo dos
Espíritos.
Deus Todo-Poderoso, sinto se rompem os laços que me prendem a alma ao
corpo e que dentro em pouco irei prestar contas do uso que fiz da vida
que me foge.
Vou experimentar as conseqüências do bem e do mal que pratiquei. Lá
não haverá ilusões, nem subterfúgios possíveis. Diante de mim vai
desenrolar-se todo o meu passado e serei julgado segundo as minhas
obras.
Nada levarei dos bens da Terra. Honras, riquezas, satisfações da
vaidade e do orgulho, tudo, enfim, que é peculiar ao corpo permanecerá
neste mundo. Nem a mais mínima parcela de todas essas coisas me
acompanhará, nem me será de utilidade alguma no mundo dos Espíritos.
Apenas levarei comigo o que pertence à alma, isto é, as boas e as más
qualidades, para serem pesadas na balança da mais rigorosa justiça. E
tanto maior severidade haverá no meu julgamento, quanto maior número de
ocasiões para fazer o bem, que não fiz, me tenha proporcionado a posição
que ocupei na Terra. (Cap. XVI, n° 9.)
Deus de misericórdia, que o meu arrependimento te chegue aos pés! Digna-te de lançar sobre mim o manto da tua indulgência.
Se te aprouver prolongar a minha existência, seja esse prolongamento
empregado em reparar, tanto quanto em mim esteja, o mal que eu tenha
praticado. Se soou, sem dilação possível, a minha hora, levo comigo o
consolador pensamento de que me será permitido redimir-me, por meio de
novas provas, a fim de merecer um dia a felicidade dos eleitos.
Se não me for dado gozar imediatamente dessa felicidade sem mescla,
partilha tão-só do justo por excelência, sei que me não é defesa para
sempre a esperança e que, pelo trabalho, alcançarei o fim, mais tarde ou
mais cedo, conforme os meus esforços.
Sei que próximos de mim, para me receberem, estão Espíritos bons e o
meu anjo de guarda, aos quais dentro em pouco verei, como eles me vêem.
Sei que, se o tiver merecido, encontrarei de novo aqueles a quem
amei na Terra e que aqueles que aqui deixo irão juntar-se a mim, que um
dia estaremos todos reunidos para sempre e que, enquanto esse dia não
chegar, poderei vir visitá-los.
Sei também que vou encontrar aqueles a quem ofendi. Possam eles
perdoar-me o que tenham a reprochar-me: o meu orgulho, a minha dureza,
minhas injustiças, a fim de que a presença deles não me acabrunhe de
vergonha!
Perdôo aos que me tenham feito ou querido fazer mal; nenhum rancor contra eles alimento e peço-te, meu Deus, que lhes perdoes.
Senhor, dá-me forças para deixar sem pena os prazeres grosseiros
deste mundo, que nada são em confronto com as alegrias sãs e puras do
mundo em que vou penetrar e onde, para o justo, não há mais tormentos,
nem sofrimentos, nem misérias, onde somente o culpado sofre, mas tendo a
confortá-lo a esperança.
A vós, bons Espíritos, e a ti, meu anjo guardião, suplico que me não
deixeis falir neste momento supremo. Fazei que a luz divina brilhe aos
meus olhos, a fim de que a minha fé se reanime, se vier a abalar-se.
Nota - Veja-se, adiante, o parágrafo V: "Preces pelos doentes e obsidiados".
III - PRECES POR OUTREM
Por alguém que esteja em aflição
42. PREFÁCIO. Se é do interesse do aflito que a sua prova
prossiga, ela não será abreviada a nosso pedido. Mas fora ato de
impiedade desanimarmos por não ter sido satisfeita a nossa súplica.
Aliás, em falta de cessação da prova, podemos esperar alguma outra
consolação que lhe mitigue o amargor. O que de mais necessário há para
aquele que se acha aflito, são a resignação e a coragem, sem as quais
não lhe será possível sofrê-la com proveito para si, porque terá de
recomeçá-la. É, pois, para esse objetivo que nos cumpre, sobretudo,
orientar os nossos esforços, quer pedindo lhe venham em auxílio os bons
Espíritos, quer levantando-lhe o moral por meio de conselhos e
encorajamentos, quer, enfim, assistindo-o materialmente, se for
possível. A prece, neste caso, pode também ter efeito direto, dirigindo,
sobre a pessoa por quem é feita, uma corrente fluídica com o intento de
lhe fortalecer o moral. (Cap. V, nº 5 e nº 27; cap. XXVII, nº 6 e nº
10.)
43. Prece. - Deus de infinita bondade, digna-te de suavizar o amargor da posição em que se encontra N..., se assim for a tua vontade.
Bons Espíritos, em nome de Deus Todo-Poderoso, eu vos suplico que o
assistais nas suas aflições. Se, no seu interesse, elas lhe não puderem
ser poupadas, fazei compreenda que são necessárias ao seu progresso.
Dai-lhe confiança em Deus e no futuro que lhas tornará menos acerbas.
Dai-lhe também forças para não sucumbir ao desespero, que lhe faria
perder o fruto de seus sofrimentos e lhe tornaria ainda mais penosa no
futuro a situação. Encaminhai para ele o meu pensamento, a fim de que o
ajude a manter-se corajoso.
Ação de graças por um benefício concedido a outrem
44. PREFÁCIO. Quem não se acha dominado pelo egoísmo
rejubila-se com o bem que acontece ao seu próximo, ainda mesmo que o não
haja solicitado por meio da prece.
45. Prece. - Meu Deus, sê bendito pela felicidade que adveio a N...
Bons Espíritos, fazei que nisso ele veja um efeito da bondade de
Deus. Se o bem que lhe aconteceu é uma prova, inspirai-lhe a lembrança
de fazer bom uso dele e de se não envaidecer, a fim de que esse bem não
redunde, de futuro, em prejuízo seu.
A ti, bom gênio que me proteges e desejas a minha felicidade, peço afastes do meu coração todo sentimento de inveja ou de ciúme.
Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal
46. PREFÁCIO. Disse Jesus: Amai os vossos inimigos.
Esta máxima é o sublime da caridade cristã; mas, enunciando-a, não
pretendeu Jesus preceituar que devamos ter para com os nossos Inimigos o
carinho que dispensamos aos amigos. Por aquelas palavras, ele nos
recomenda que lhes esqueçamos as ofensas, que lhes perdoemos o
mal que nos façam, que lhes paguemos com o bem esse mal. Além do
merecimento que, aos olhos de Deus, resulta de semelhante proceder, ele
eqüivale a mostrar aos homens o em que consiste a verdadeira
superioridade. (Cap. XII, nº 3 e nº 4.)
47. Prece. - Meu Deus, perdôo a N... o mal que me fez e
o que me quis fazer, como desejo me perdoes e também ele me perdoe as
faltas que eu haja cometido. Se o colocaste no meu caminho, como prova
para mim, faça-se a tua vontade.
Livra-me, ó meu Deus, da idéia de o maldizer e de todo desejo
malévolo contra ele. Faze que jamais me alegre com as desgraças que lhe
cheguem, nem me desgoste com os bens que lhe poderão ser concedidos, a
fim de não macular minha alma por pensamentos indignos de um cristão.
Possa a tua bondade, Senhor, estendendo-se sobre ele, induzi-lo a alimentar melhores sentimentos para comigo!
Bons Espíritos, inspirai-me o esquecimento do mal e a lembrança do
bem. Que nem o ódio, nem o rancor, nem o desejo de lhe retribuir o mal
com outro mal me entrem no coração, porquanto o ódio e a vingança só são
próprios dos Espíritos maus, encarnados e desencarnados! Pronto esteja
eu, ao contrário, a lhe estender mão fraterna, a lhe pagar com o bem o
mal e a auxiliá-lo, se estiver ao meu alcance.
Desejo, para experimentar a sinceridade do que digo, que ocasião se
me apresente de lhe ser útil; mas, sobretudo, ó meu Deus, preserva-me de
fazê-lo por orgulho ou ostentação, abatendo-o com uma generosidade
humilhante, o que me acarretaria a perda do fruto da minha ação, pois,
nesse caso, eu mereceria me fossem aplicadas estas palavras do Cristo: Já recebeste a tua recompensa. (Cap. XIII, nº 1 e seguintes.)
Ação de graças pelo bem concedido aos nossos inimigos
48. PREFÁCIO. Não desejar mal aos seus inimigos é ser apenas
meio caridoso. A verdadeira caridade quer que lhes almejemos o bem e que
nos sintamos felizes com o bem que lhes advenha. (Cap. XII, nº 7 e nº
8.)
49. Prece. - Meu Deus, entendeste em tua justiça encher de
júbilo o coração de N... Agradeço-te por ele, sem embargo do mal que me
fez ou que tem procurado fazer-me. Se desse bem ele se aproveitasse para
me humilhar, eu receberia isso como uma prova para a minha caridade.
Bons Espíritos que me protegeis, não permitais que me sinta pesaroso
por isso. Isentai-me da inveja e do ciúme que rebaixam. Inspirai-me, ao
contrário, a generosidade que eleva. A humilhação está no mal e não no
bem; e sabemos que, cedo ou tarde, justiça será feita a cada um, segundo
suas obras.
Pelos inimigos do Espiritismo
50. Bem-aventurados os famintos de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Ditosos sereis, quando os homens vos carregarem de maldições, vos
perseguirem e falsamente disserem contra vós toda espécie de mal, por
minha causa. - Rejubilai-vos, então, porque grande recompensa vos está
reservada nos céus, pois assim perseguiram eles os profetas enviados
antes de vós. (S. MATEUS, cap. V, vv. 6 e 10 a 12.)
Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma;
temei, antes, aquele que pode perder alma e corpo no inferno. (S.
MATEUS, cap. X, v. 28.)
51. PREFÁCIO. De todas as liberdades, a mais inviolável é a de
pensar, que abrange a de a de consciência. Lançar alguém anátema sobre
os que não pensam como ele é reclamar para si essa liberdade e negá-la
aos outros, é violar o primeiro mandamento de Jesus: a caridade e o amor
do próximo. Perseguir os outros, por motivos de suas crenças, é atentar
contra o mais sagrado direito que tem todo homem o de crer no que lhe
convém e de adorar a Deus como o entenda. Constrangê-los a atos
exteriores Semelhantes aos nossos é mostrarmos que damos mais valor à
forma do que ao fundo, mais às aparências, do que à convicção. Nunca a
abjuração forçada deu a quem quer que fosse a fé; apenas pode fazer
hipócritas. E um abuso da força material, que não prova a verdade. A verdade é senhora de si: convence e não persegue, porque não precisa perseguir.
O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse (1) até uma religião,
por que se não teria a liberdade de se dizer espírita, como se tem a de
se dizer católico, protestante, ou judeu, adepto de tal ou qual doutrina
filosófica, de tal ou qual sistema econômico? Essa crença é falsa, ou é
verdadeira, se é falsa, cairá por si mesma, visto que o erro não pode
prevalecer contra a verdade, quando se faz luz nas inteligências. Se é
verdadeira, não haverá perseguição que a torne falsa.
(1) Ver "Reformador" de 1946, pág. 253; "Revue
Spirite", de dezembro de 1868; "Allan Kardec", de Zêus Wantuil e
Francisco Thiesen, vol. III, pág. 100. Nota da Editora da FEB.
A perseguição é o batismo de toda idéia nova, grande e justa e
cresce com a magnitude e a importância da idéia. O furor e o
desabrimento dos seus inimigos são proporcionais ao temor que ela lhes
inspira. Tal a razão por que o Cristianismo foi perseguido outrora e por
que o Espiritismo o é hoje, com a diferença, todavia, de que aquele o
foi pelos pagãos, enquanto o segundo o é por cristãos. Passou o tempo
das perseguições sangrentas. é exato; contudo, se já não matam o corpo,
torturam a alma, atacam-na até nos seus mais íntimos sentimentos, nas
suas mais caras afeições. Lança-se a desunião nas famílias, excita-se a
mãe contra a filha, a mulher contra o marido; investe-se mesmo contra o
corpo, agravando-se-lhe as necessidades materiais, tirando-se-lhe o
ganha-pão, para reduzir pela fome o crente. (Cap. XXIII, nº 9 e
seguintes.)
Espíritas, não vos aflijais com os golpes que vos desfiram, pois eles
provam que estais com a verdade. Se assim não fosse, deixar-vos-iam
tranqüilos e não vos procurariam ferir. Constitui uma prova para a vossa
fé, porquanto é pela vossa coragem, pela vossa resignação e pela vossa
paciência que Deus vos reconhecerá entre os seus servidores fiéis, a
cuja contagem ele hoje procede, para dar a cada um a parte que lhe toca,
segundo suas obras.
A exemplo dos primeiros cristãos, carregai com altivez a vossa cruz.
Crede na palavra do Cristo, que disse: "Bem-aventurados os que sofrem
perseguição por amor da justiça, que deles é o reino dos céus. Não
temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma." Ele também
disse: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal e orai
pelos que vos perseguem. Mostrai que sois seus verdadeiros discípulos e
que a vossa doutrina é boa, fazendo o que ele disse e fez.
A perseguição pouco durará. Aguardai com paciência o romper da
aurora, pois que já rutila no horizonte a estrela d'alva. (Cap. XXIV, nº
13 e seguintes.)
52. Prece. - Senhor, tu nos disseste pela boca de Jesus, o teu
Messias: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da
justiça; perdoai aos vossos inimigos; orai pelos que vos persigam." E
ele próprio nos deu o exemplo, orando pelos seus algozes.
Seguindo esse exemplo, meu Deus, imploramos a tua misericórdia para
os que desprezam os teus sacratíssimos preceitos, únicos capazes de
facultar a paz neste mundo e no outro. Como o Cristo, também nós te
dizemos: "Perdoa-lhes, Pai, que eles não sabem o que fazem."
Dá-nos forças para suportar com paciência e resignação, como provas
para a nossa fé e a nossa humildade, seus escárnios, injúrias, calúnias e
perseguições; isenta-nos de toda idéia de represálias, visto que para
todos soará a hora da tua justiça, hora que esperamos submissos à tua
vontade santa.
Por uma criança que acaba te nascer
53. PREFÁCIO. Somente depois de terem passado pelas provas da
vida corpórea, chegam à perfeição os Espíritos. Os que se encontram na
erraticidade aguardam que Deus lhes permita volver a uma existência que
lhes proporcione meios de progredir, quer pela expiação de suas faltas
passadas, mediante as vicissitudes a que fiquem sujeitos, quer
desempenhando uma missão proveitosa para a Humanidade. O seu
adiantamento e a sua felicidade futura serão proporcionados à maneira
por que empreguem o tempo que hajam de estar na Terra. O encargo de lhes
guiar os primeiros passos e de os encaminhar para o bem cabe a seus
pais, que responderão perante Deus pelo desempenho que derem a esse
mandato. Para lhos facilitar, foi que Deus fez do amor paterno e do amor
filial uma lei da Natureza, lei que jamais se transgride impunemente.
54. Prece. - (Para ser dita pelos pais) - Espírito que
encarnaste no corpo do nosso filho, sê bem-vindo. Sê bendito, ó Deus
Onipotente, que no-lo mandaste.
É um depósito que nos foi confiado e do qual teremos um dia de
prestar contas. Se ele pertence à nova geração de Espíritos bons que hão
de povoar a Terra, obrigado, ó meu Deus, por essa graça! Se é uma alma
imperfeita, corre-nos o dever de ajudá-lo a progredir na senda do bem,
pelos nossos conselhos e bons exemplos. Se cair no mal, por culpa nossa,
responderemos por isso, visto que, então, teremos falido em nossa
missão junto dele.
Senhor, ampara-nos em nossa tarefa e dá-nos a força e a vontade de
cumpri-la. Se este filho nos vem como provação para os nossos Espíritos,
faça-se a tua vontade!
Bons Espíritos que presidistes ao seu nascimento e que tendes de
acompanhá-lo no curso de sua existência, não o abandoneis. Afastai dele
os maus Espíritos que tentem orientá-lo para o mal. Dai-lhe forças para
lhes resistir às sugestões e coragem para sofrer com paciência e
resignação as provas que o esperam na Terra. (Cap. XIV, n° 9.)
55. (Outra) - Meu Deus, confiaste-me a sorte de um dos teus
Espíritos; faze, Senhor, que eu seja digno do encargo que me impuseste.
Concede-me a tua proteção. Ilumina a minha inteligência, a fim de que eu
possa perceber desde cedo as tendências daquele que me compete preparar
para ascender à tua paz.
56. (Outra) - Deus de bondade, pois que te aprouve
permitir que o Espírito desta criança viesse de novo sofrer as provas
terrenas, destinadas a fazê-lo progredir, dá-lhe luz, a fim de que
aprenda a conhecer-te, amar-te e adorar-te. Faze, pela tua onipotência,
que esta alma se regenere na fonte das tuas sábias instruções; que, sob a
égide do seu anjo guardião, a sua inteligência se desenvolva e amplie e
o leve a ter por aspiração aproximar-se cada vez mais de ti; que a
ciência do Espiritismo seja a luz brilhante que o ilumine através dos
escolhos da vida; que ele, enfim, saiba apreciar toda a extensão do teu
amor, que nos põe em prova, para purificar-nos.
Senhor, lança paterno olhar sobre a família a que confiaste esta
alma, para que ela compreenda a importância da sua missão e faça que
germinem nesta criança as boas sementes, até ao dia em que ela possa,
por suas próprias aspirações, elevar-se sozinha para ti.
Digna-te, ó meu Deus, de atender a esta humilde prece, em nome e
pelos merecimentos dAquele que disse: "Deixai venham a mim as
criancinhas, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes
assemelham."
Por um agonizante
57. PREFÁCIO. A agonia é o prelúdio da separação da alma e do
corpo. Pode dizer-se que, nesse momento, o homem tem um pé neste mundo e
um no outro. É penosa às vezes essa passagem, para os que muito
apegados se acham à matéria e viveram mais para os bens deste mundo do
que para os do outro, ou cuja consciência se encontra agitada pelos
pesares e remorsos. Para aqueles cujos pensamentos, ao contrário,
buscaram o Infinito e se desprenderam da matéria, menos difíceis de
romper-se são os laços que o prendem à Terra e nada têm de dolorosos os
seus últimos momentos. Apenas um fio liga, então, a alma ao corpo,
enquanto que no outro caso profundas raízes a conservam presa a este. Em
todos os casos, a prece exerce ação poderosa sobre o trabalho de
separação. (Ver, adiante, "Preces pelos doentes"; também O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. I - "O Passamento".)
58. Prece. - Deus onipotente e misericordioso, aqui está uma
alma prestes a deixar o seu envoltório terreno para volver ao mundo dos
Espíritos, sua verdadeira pátria. Dado lhe seja fazê-lo em paz e que
sobre ela se estenda a tua misericórdia.
Bons Espíritos, que a acompanhastes na Terra, não a abandoneis neste
momento supremo. Dai-lhe forças para suportar os últimos sofrimentos por
que lhe cumpre passar neste mundo, a bem do seu progresso futuro.
Inspirai-a, para que consagre ao arrependimento de suas faltas os
últimos clarões de inteligência que lhe restem, ou que momentaneamente
lhe advenham.
Dirigi o meu pensamento, a fim de que atue de modo a tomar menos
penoso para ela o trabalho da separação e a fim de que leve consigo, ao
abandonar a Terra, as consolações da esperança.
IV - PRECES PELOS QUE JÁ NÃO SÃO DA TERRA
Por alguém que acaba de morrer
59. PREFÁCIO. As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a
Terra não objetivam, unicamente, dar-lhes um testemunho de simpatia:
também têm por efeito auxiliar-lhes o desprendimento e, desse modo,
abreviar-lhes a perturbação que sempre se segue à separação,
tornando-lhes mais calmo o despertar. Ainda aí, porém, como em qualquer
outra circunstância, a eficácia está na sinceridade do pensamento e não
na quantidade das palavras que se profiram mais ou menos pomposamente e
em que, amiúde, nenhuma parte toma o coração.
As preces que deste se elevam ressoam em torno do Espírito, cujas
idéias ainda estão confusas, como as vozes amigas que nos fazem
despertar do sono. (Cap. XXVII, n° l0.)
60. Prece. - Onipotente Deus, que a tua misericórdia se
derrame sobre a alma de N..., a quem acabaste de chamar da Terra.
Possam ser-lhe contadas as provas que aqui sofreu, bem como ter
suavizadas e encurtadas as penas que ainda haja de suportar na
Espiritualidade!
Bons Espíritos que o viestes receber e tu, particularmente, seu anjo
guardião, ajudai-o a despojar-se da matéria; dai-lhe luz e a consciência
de si mesmo, a fim de que saia presto da perturbação inerente à
passagem da vida corpórea para a vida espiritual. inspirai-lhe o
arrependimento das faltas que haja cometido e o desejo de obter
permissão pata as reparar, a fim de acelerar o seu avanço rumo à vida
eterna bem-aventurada.
N..., acabas de entrar no mundo dos Espíritos e, no entanto, presente
aqui te achas entre nós; tu nos vês e ouves, por isso que de menos do
que havia, entre ti e nós, só há o corpo perecível que vens de abandonar
e que em breve estará reduzido a pó.
Despiste o envoltório grosseiro, sujeito a vicissitudes e à morte, e
conservaste apenas o envoltório etéreo, imperecível e inacessível aos
sofrimentos. Já não vives pelo corpo; vives da vida dos Espíritos, vida
essa isenta das misérias que afligem a Humanidade.
Já não tens diante de ti o véu que às nossas vistas oculta os
esplendores da vida no Além. Podes, doravante, contemplar novas
maravilhas, ao passo que nós ainda continuamos mergulhados em trevas.
Vais, em plena liberdade, percorrer o espaço e visitar os mundos,
enquanto nós rastejaremos penosamente na Terra, à qual se conserva preso
o nosso corpo material, semelhante, para nós, a pesado fardo.
Diante de ti, vai desenrolar-se o panorama do Infinito e, em face de
tanta grandeza, compreenderás a vacuidade dos nossos desejos terrestres,
das nossas ambições mundanas e dos gozos fúteis com que os homens tanto
se deleitam.
A morte, para os homens, mais não é do que uma separação material de
alguns instantes. Do exílio onde ainda nos retém a vontade de Deus, bem
assim os deveres que nos correm neste mundo, acompanhar-te-emos pelo
pensamento, até que nos seja permitido juntar-nos a ti, como tu te
reuniste aos que te precederam.
Não podemos ir onde te achas, mas tu podes vir ter conosco. Vem,
pois, aos que te amam e que tu amaste; ampara-os nas provas da vida;
vela pelos que te são caros; protege-os, como puderes; suaviza-lhes os
pesares, fazendo-lhes perceber, pelo pensamento, que és mais ditoso
agora e dando-lhes a consoladora certeza de que um dia estareis todos
reunidos num mundo melhor.
Nesse, onde te encontras, devem extinguir-se todos os ressentimentos.
Que a eles, daqui em diante, sejas inacessível, a bem da tua felicidade
futura! Perdoa, portanto, aos que hajam incorrido em falta para
contigo, como eles te perdoam as que tenhas cometido para com eles.
Nota. - Podem acrescentar-se a esta prece, que se aplica a
todos, algumas palavras especiais, conforme as circunstâncias
particulares de família ou de relações, bem como a posição social que
ocupava o defunto.
Se se trata de uma criança, ensina-nos o Espiritismo que não está ali
um Espírito de criação recente, mas um que já viveu e que pode, mesmo,
já ser muito adiantado. Se foi curta a sua última existência, é que não
devia passar de uma completação de prova, ou constituir uma prova para
os pais. (Cap.V, n° 21.)
61. (Outra) - (1). Senhor onipotente, que a tua misericórdia
se estenda sobre os nossos irmãos que acabam de deixar a Terra! Que a
tua luz brilhe para eles! Tira-os das trevas; abre-lhes os olhos e os
ouvidos! Que os bons Espíritos os cerquem e lhes façam ouvir palavras de
paz e de esperança!
(1) Esta prece foi ditada a um médium de Bordéus, na ocasião em que passava pela sua casa o féretro de um desconhecido.
Senhor, ainda que muito indignos, ousamos implorar a tua
misericordiosa indulgencia para este irmão nosso que acaba de ser
chamado do exílio. Faze que o seu regresso seja o do filho pródigo.
Esquece, ó meu Deus, as faltas que haja cometido, para te lembrares
somente do bem que haja praticado. Imutável é a tua justiça, nós o
sabemos; mas, imenso é o teu amor. Suplicamos-te que abrandes aquela, na
fonte de bondade que emana do teu seio.
Brilhe a luz para os teus olhos, irmão que vens de deixar a Terra!
Que os bons Espíritos de ti se aproximem, te cerquem e ajudem a romper
as cadeias terrenas! Compreende e vê a grandeza do nosso Senhor:
submete-te, sem queixumes, à sua justiça, porém, não desesperes nunca da
sua misericórdia. Irmão! que um sério retrospecto do teu passado te
abra as portas do futuro, fazendo-te perceber as faltas que deixas para
trás e o trabalho cuja execução te incumbe para as reparares! Que Deus
te perdoe e que os bons Espíritos te amparem e animem. Por ti orarão os
teus irmãos da Terra e pedem que por eles ores.
Pelas pessoas a quem tivemos afeição
62. PREFÁCIO. Que horrenda é a idéia do Nada! Quão de lastimar
são os que acreditam que no vácuo se perde, sem encontrar eco que lhe
responda, a voz do amigo que chora o seu amigo! Jamais conheceram as
puras e santas afeiçoes os que pensam que todo morre com o corpo; que o
gênio, que com a sua vasta inteligência iluminou o mundo; é uma
combinação de matéria, que, qual sopro, se extingue para sempre; que do
mais querido ente, de um pai, de uma mãe, ou de um filho adorado não
restará senão um pouco de pó que o vento irremediavelmente dispersará.
Como pode um homem de coração conservar-se frio a essa idéia? Como
não o gela de terror a idéia de um aniquilamento absoluto e não lhe faz,
ao menos, desejar que não seja assim? Se até hoje não lhe foi
suficiente a razão para afastar de seu espírito quaisquer dúvidas, aí
está o Espiritismo a dissipar toda incerteza com relação ao futuro, por
meio das provas materiais que dá da sobrevivência da alma e da
existência dos seres de além-túmulo. Tanto assim é que por toda a parte
essas provas são acolhidas com júbilo; a confiança renasce, pois que o
homem doravante sabe que a vida terrestre é apenas uma breve passagem
conducente a melhor vida; que seus trabalhos neste mundo não lhe ficam
perdidos e que as mais santas afeições não se despedaçam sem mais
esperanças. (Cap. IV, n° 18; Cap. V, n° 21.)
63. Prece. - Digna-te, ó meu Deus, de acolher, benévolo, a
prece que te dirijo pelo Espírito N... Faze-lhe entrever as claridades
divinas e torna-lhe fácil o caminho da felicidade eterna. Permite que os
bons Espíritos lhe levem as minhas palavras e o meu pensamento.
Tu, que tão caro me eras neste mundo, escuta a minha voz, que te
chama para te oferecer novo penhor da minha afeição. Permitiu Deus que
te libertasses antes de mim e eu disso me não poderia queixar sem
egoísmo, porquanto fora querer-te sujeito ainda às penas e sofrimentos
da vida. Espero, pois, resignado, o momento de nos reunirmos de novo no
mundo mais venturoso no qual me precedeste.
Sei que é apenas temporária a nossa separação e que, por mais longa
que me possa parecer, a sua duração nada é em face da ditosa eternidade
que Deus promete aos seus escolhidos. Que a sua bondade me preserve de
fazer o que quer que retarde esse desejado instante e me poupe assim à
dor de te não encontrar, ao sair do meu cativeiro terreno.
Oh! quão doce e consoladora é a certeza de que não há entre nós mais
do que um véu material que te oculta às minhas vistas! de que podes
estar aqui, ao meu lado, a me ver e ouvir como outrora, senão ainda
melhor do que outrora; de que não me esqueces, do mesmo modo que eu te
não esqueço; de que os nossos pensamentos constantemente se entreluzam e
que o teu sempre me acompanha e ampara.
Que a paz do Senhor seja contigo.
Pelas almas sofredoras que pedem preces
64. PREFÁCIO. Para se compreender o alívio que a prece pode
proporcionar aos Espíritos sofredores, faz-se preciso saber de que
maneira ela atua, conforme atrás ficou explicado. (Cap. XXVII, n° 9, n°
18 e seguintes.) Aquele que se ache compenetrado dessa verdade ora com
mais fervor, pela certeza que tem de não orar em vão.
65. Prece. - Deus clemente e misericordioso, que a tua bondade
se estenda por sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas
preces e particularmente sobre a alma de N...
Bons Espíritos, que tendes por única ocupação fazer o bem, intercedei
comigo pelo alívio deles. Fazei que lhes brilhe diante dos olhos um
raio de esperança e que a luz divina os esclareça acerca das
imperfeições que os conservam distantes da morada dos bem-aventurados.
Abri-lhes o coração ao arrependimento e ao desejo de se depurarem, para
que se lhes acelere o adiantamento. Fazei-lhes compreender que, por seus
esforços, podem eles encurtar a duração de suas provas.
Que Deus, em sua bondade, lhes dê a força de perseverarem nas boas resoluções!
Possam essas palavras repassadas de benevolência suavizar-lhes as
penas, mostrando-lhes que há na Terra seres que deles se compadecem e
lhes desejam toda a felicidade.
66. (Outra) - Nós te pedimos, Senhor, que espalhes as graças do teu
amor e da tua misericórdia por todos Os que sofrem, quer no espaço como
Espíritos errantes, quer entre nós como encarnados. Tem piedade das
nossas fraquezas. Falíveis nos fizeste, mas dando-nos capacidade para
resistir ao mal e vencê-lo. Que a tua misericórdia se estenda sobre
todos os que não hão podido resistir aos seus maus pendores e que ainda
se deixam arrastar por maus caminhos. Que os bons Espíritos os cerquem;
que a tua luz lhes brilhe aos olhos e que, atraídos pelo calor
vivificante dessa luz, eles venham prosternar-se a teus pés, humildes,
arrependidos e submissos.
Pedimos-te, igualmente, Pai de misericórdia, por aqueles dos nossos
irmãos que não tiveram forças para suportar suas provas terrenas. Tu,
Senhor, nos deste um fardo a carregar e só aos teus pés temos de o
depor. Grande, porém, é a nossa fraqueza e a coragem nos falta algumas
vezes no curso da jornada. Compadece-te desses servos indolentes que
abandonaram antes da hora o trabalho. Que a tua justiça os poupe, e
consente que os bons Espíritos lhes levem alivio, consolações e
esperanças no futuro. A perspectiva do perdão fortalece a alma;
mostra-a, Senhor, aos culpados que desesperam e, sustentados por essa
esperança, eles haurirão forças na grandeza mesma de suas faltas e de
seus sofrimentos, a fim de resgatarem o passado e se prepararem a
conquistar o futuro.
Por um inimigo que morreu
67. PREFÁCIO. A caridade para com os nossos inimigos deve
acompanhá-los ao além-túmulo. Precisamos ponderar que o mal que eles nos
fizeram foi para nós uma prova, que há de ter sido propícia ao nosso
adiantamento, se a soubemos aproveitar. Pode ternos sido, mesmo, de
maior proveito do que as aflições puramente materiais, pelo fato de nos
haver facultado juntar, à coragem e à resignação, a caridade e o
esquecimento das ofensas. (Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)
68. Prece. - Senhor, foi do teu agrado chamar, antes da minha,
a alma de N... Perdôo-lhe o mal que me fez e as más intenções que
nutriu com referência a mim. Possa ele ter pesar disso, agora que já não
alimenta as ilusões deste mundo.
Que a tua misericórdia, meu Deus, desça sobre ele e afaste de mim a
idéia de me alegrar com a sua morte. Se incorri em faltas para com ele,
que mas perdoe, como eu esqueço as que cometeu para comigo.
Por um criminoso
69. PREFÁCIO. Se a eficácia das preces fosse proporcional à
extensão delas, as mais longas deveriam ficar reservadas para os mais
culpados, porque mais lhes são elas necessárias do que àqueles que
santamente viveram. Recusá-las aos criminosos é faltar com a caridade e
desconhecer a misericórdia de Deus; julgá-las inúteis, quando um homem
haja praticado tal ou tal erro, fora prejulgar a justiça do Altíssimo.
(Cap. XI, n° 14.)
70. Prece. - Senhor, Deus de misericórdia, não repilas
esse criminoso que acaba de deixar a Terra. A justiça dos homens o
castigou, mas não o isentou da tua, se o remorso não lhe penetrou o
coração.
Tira-lhe dos olhos a venda que lhe oculta a gravidade de suas faltas.
Possa o seu arrependimento merecer de ti acolhimento benévolo e
abrandar os sofrimentos de sua alma! Possam também as nossas preces e a
intercessão dos bons Espíritos levar-lhe esperança e consolação;
inspirar-lhe o desejo de reparar suas ações más numa nova existência e
dar-lhe forças para não sucumbir nas novas lutas em que se empenhar!
Senhor, tem piedade dele!
Por um suicida
71. PREFÁCIO. Jamais tem o homem o direito de dispor da sua
vida, porquanto só a Deus cabe retirá-lo do cativeiro da Terra, quando o
julgue oportuno. Todavia, a justiça divina pode abrandar-lhe os
rigores, de acordo com as circunstâncias, reservando, porém, toda a
severidade para com aquele que se quis subtrair às provas da vida. O
suicida é qual prisioneiro que se evade da prisão, antes de cumprida a
pena; quando preso de novo, é mais severamente tratado. O mesmo se dá
com o suicida que julga escapar às misérias do presente e mergulha em
desgraças maiores. (Cap. V, n° 14 e seguintes.)
72. Prece. - Sabemos, ó meu Deus, qual a sorte que
espera os que violam a tua lei, abreviando voluntariamente seus dias;
mas, também sabemos que infinita é a tua misericórdia. Digna-te, pois,
de estendê-la sobre a alma de N... Possam as nossas preces e a tua
comiseração abrandar a acerbidade dos sofrimentos que ele está
experimentando, por não haver tido a coragem de aguardar o fim de suas
provas.
Bons Espíritos, que tendes por missão assistir os desgraçados,
tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o pesar da falta que cometeu.
Que a vossa assistência lhe dê forças para suportar com mais resignação
as novas provas por que haja de passar, a fim de repará-la. Afastai
dele os maus Espíritos, capazes de o impelirem novamente para o mal e
prolongar-lhe os sofrimentos, fazendo-o perder o fruto de suas futuras
provas.
A ti, cuja desgraça motiva as nossas preces, nos dirigimos também,
para te exprimir o desejo de que a nossa comiseração te diminua o
amargor e te faça nascer no íntimo a esperança de melhor porvir! Nas
tuas mãos está ele; confia na bondade de Deus, cujo seio se abre a todos
os arrependimentos e só se conserva fechado aos corações endurecidos.
Pelos Espíritos penitentes
73. PREFÁCIO. Fora injusto incluir na categoria dos Espíritos
maus os sofredores e penitentes, que pedem preces. Podem eles ter sido
maus, porém, já não o são, desde que reconhecem suas faltas e as
deploram; são apenas infelizes. Já alguns começam mesmo a gozar de
relativa felicidade.
74. Prece. - Deus de misericórdia, que aceitas o
arrependimento sincero do pecador, encarnado ou desencarnado, aqui está
um Espírito que se há comprazido no mal, porém, que reconhece seus erros
e entra no bom caminho. Digna-te, ó meu Deus, de recebê-lo como filho
pródigo e de lhe perdoar.
Bons Espíritos, doravante ele deseja ouvir a vossa voz, que até hoje
desatendeu; permiti-lhe que entreveja a felicidade dos eleitos do
Senhor, a fim de que persista no desejo de purificar-se para alcançá-la.
Amparai-o em suas boas resoluções e dai-lhe forças para resistir aos
seus maus instintos.
Espírito de N... nós te felicitamos pela mudança que em ti se operou e agradecemos aos bons Espíritos que te ajudaram.
Se te comprazias outrora em fazer o mal, é que não compreendias quão
doce é o gozo de fazer o bem; também te sentias por demais baixo para
esperar consegui-lo. Mas, do momento em que puseste o pé no bom caminho,
uma luz nova brilhou aos teus olhos; começaste a gozar de uma
felicidade que desconhecias e a esperança te entrou no coração. E que
Deus ouve sempre a prece do pecador que se arrepende; não repele a
nenhum dos que o buscam.
Para entrares de novo e completamente na sua graça, esforça-te daqui
por diante não só para não mais praticares o mal, senão que para fazeres
o bem e, sobretudo, reparares o mal que fizeste. Terás então satisfeito
à justiça de Deus; cada uma das boas ações que praticares apagará uma
das tuas faltas passadas.
Já está dado o primeiro passo; agora, quanto mais avançares no
caminho, tanto mais fácil e agradável ele te parecerá. Persevera, pois, e
um dia terás a glória de ser contado entre os Espíritos bons e os
bem-aventurados.
Pelos Espíritos endurecidos
75. PREFÁCIO. Os maus Espíritos são aqueles que ainda não
foram tocados de arrependimento; que se deleitam no mal e nenhum pesar
por isso sentem; que são insensíveis às reprimendas, repelem a prece e
muitas vezes blasfemam do nome de Deus. São essas almas endurecidas que,
após a morte, se vingam nos homens dos sofrimentos que suportam, e
perseguem com o seu ódio aqueles a quem odiaram durante a vida, quer
obsidiando-os quer exercendo sobre eles qualquer influência funesta.
(Cap. X, n° 6; Cap. XII, n° 5 e n° 6.)
Duas categorias há bem distintas de Espíritos perversos: a dos que
são francamente maus e a dos hipócritas. Infinitamente mais fácil é
reconduzir ao bem os primeiros do que os segundos. Aqueles, as mais das
vezes, são naturezas brutas e grosseiras, como se nota entre os homens;
praticam o mal mais por instinto do que por cálculo e não procuram
passar por melhores do que são. Há neles, entretanto, um gérmen latente
que é preciso fazer desabrochar, o que se consegue quase sempre por meio
da perseverança, da firmeza aliada à benevolência, dos conselhos, do
raciocínio e da prece. Através da mediunidade, a dificuldade que eles
encontram para escrever o nome de Deus é sinal de um temor instintivo,
de uma voz íntima da consciência que lhes diz serem indignos de fazê-lo.
Nesse ponto estão a pique de converter-se e tudo se pode esperar deles:
basta se lhes encontre o ponto vulnerável do coração.
Os Espíritos hipócritas quase sempre são muito inteligentes, mas
nenhuma fibra sensível possuem no coração; nada os toca; simulam todos
os bons sentimentos para captar a confiança, e felizes se sentem quando
encontram tolos que os aceitam como santos Espíritos, pois que possível
se lhes torna governá-los à vontade. O nome de Deus, longe de lhes
inspirar o menor temor, serve-lhes de máscara para encobrirem suas
torpezas. No mundo invisível, como no mundo visível, os hipócritas são
os seres mais perigosos, porque atuam na sombra, sem que ninguém disso
desconfie; têm apenas as aparências da fé, mas fé sincera, jamais.
76. Prece. - Senhor, digna-te de lançar um olhar de bondade
sobre os Espíritos imperfeitos, que ainda se encontram na treva da
ignorância e te desconhecem, particularmente sobre N...
Bons Espíritos, ajudai-nos a fazer-lhe compreender que, induzindo os
homens ao mal, obsidiando-os e atormentando-os, ele prolonga os seus
próprios sofrimentos; fazei que o exemplo da felicidade de que gozais
lhe seja um encorajamento.
Espírito que ainda te comprazes no mal, vem ouvir a prece que por ti
fazemos; ela te há de provar que desejamos o teu bem, conquanto faças o
mal.
És desgraçado, pois não se pode ser feliz fazendo o mal. Por que
então te conservarás no sofrimento quando de ti depende evitá-lo? Olha
os bons Espíritos que te cercam; vê quão ditosos são e se te não seria
mais agradável fruir da mesma felicidade.
Dirás que te é impossível; porém, nada é impossível àquele que quer,
porquanto Deus te deu, como a todas as suas criaturas, a liberdade de
escolher entre o bem e o mal, isto é, entre a felicidade e a desgraça, e
ninguém se acha condenado a praticar o mal. Assim como tens vontade de
fazê-lo, também podes ter a de fazer o bem e de ser feliz.
Volve para Deus o teu olhar; dirige-lhe por um instante o teu
pensamento e um raio da divina luz virá iluminar-te. Dize conosco estas
simples palavras: Meu Deus; eu me arrependo, perdoa-me. Tenta
arrepender-te e fazer o bem, em vez de fazer o mal, e verás que logo a
sua misericórdia descerá sobre ti, que um bem-estar indizível
substituirá as angústias que experimentas.
Desde que hajas dado um passo no bom caminho, o resto deste te
parecerá fácil de percorrer. Compreenderás então quanto tempo perdeste
de felicidade por culpa tua; mas, um futuro radioso e pleno de esperança
se abrirá diante de ti e te fará esquecer o teu miserável passado,
prenhe de perturbação e de torturas morais, que seriam para ti o
inferno, se houvessem de durar eternamente. Dia virá em que essas
torturas serão tais que a qualquer preço quererás fazê-las cessar;
porém, quanto mais te demorares, tanto mais difícil será isso.
Não creias que permanecerás sempre no estado em que te achas; não,
que isso é impossível. Duas perspectivas tens diante de ti: a de
sofreres muitíssimo mais do que tens sofrido até agora e a de seres
ditoso como os bons Espíritos que te rodeiam. A primeira será
inevitável, se persistires na tua obstinação, quando um simples esforço
da tua vontade bastará para te tirar da má situação em que te encontras.
Apressa-te, pois, visto que cada dia de demora é um dia perdido para a
tua felicidade.
Bons Espíritos, fazei que estas palavras ecoem nessa alma ainda
atrasada, a fim de que a ajudem a aproximar-se de Deus. Nós vo-lo
pedimos em nome de Jesus-Cristo, que tão grande poder tinha sobre os
maus Espíritos.
V - PRECES PELOS DOENTES E PELOS OBSIDIADOS
Pelos doentes
77. PREFÁCIO. As doenças fazem parte das provas e das
vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa
natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e
os excessos de toda ordem semeiam em nós germens malsãos, às vezes
hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou moralmente, o
organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às
mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo das
paixões. (Cap. III, n° 9.) Temos, assim, de nos resignar às
conseqüências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que
mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir
que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as
nossas condições atuais. Se, porém, mau grado aos nossos esforços, não o
conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os
nossos passageiros males.
Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se
dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso
alcance meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em
conformidade com o instinto de conservação, indica que é dever nosso
procurar esses meios e aplicá-los.
A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo
nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela
outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no Cap. XXVI, a notícia sobre a mediunidade curadora.)
78. Prece. (Para ser dita pelo doente.) - Senhor, pois que és
todo justiça, a enfermidade que te aprouve mandar-me necessariamente eu a
merecia, visto que nunca impões sofrimento algum sem causa. Confio-me,
para minha cura, à tua infinita misericórdia.
Se for do teu agrado restituir-me a saúde, bendito seja o teu santo
nome. Se, ao contrário, me cumpre sofrer mais, bendito seja ele do mesmo
modo. Submeto-me, sem queixas, aos teus sábios desígnios, porquanto o
que fazes só pode ter por fim o bem das tuas criaturas.
Dá, ó meu Deus, que esta enfermidade seja para mim um aviso salutar e
me leve a refletir sobre a minha conduta. Aceito-a como uma expiação do
passado e como uma prova para a minha fé e a minha submissão à tua
santa vontade. (Veja-se a prece n° 40.)
79. Prece. (Pelo doente.) - Meu Deus, são impenetráveis os
teus desígnios e na tua sabedoria entendeste de afligir a N... pela
enfermidade. Lança, eu te suplico, um olhar de compaixão sobre os seus
sofrimentos e digna-te de pôr-lhes termo.
Bons Espíritos, ministros do Onipotente, secundai, eu vos peço, o meu
desejo de aliviá-lo; encaminhai o meu pensamento, a fim de que vá
derramar um bálsamo salutar em seu corpo e a consolação em sua alma.
Inspirai-lhe a paciência e a submissão à vontade de Deus; dai-lhe a
força de suportar suas dores com resignação cristã, a fim de que não
perca o fruto desta prova. (Veja-se a prece n° 57.)
80. Prece. (Para ser dita pelo médium curador.) -Meu Deus, se
te dignas servir-te de mim, indigno como sou, poderei curar esta
enfermidade, se assim o quiseres, porque em ti deposito fé. Mas, sem ti,
nada posso. Permite que os bons Espíritos me cumulem de seus fluidos
benéficos, a fim de que eu os transmita a esse doente, e livra-me de
toda idéia de orgulho e de egoísmo que lhes pudesse alterar a pureza.
Pelos obsidiados
81. PREFÁCIO. A obsessão é a ação persistente que um Espírito
mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos,
desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores,
até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.
Oblitera todas as faculdades mediúnicas; traduz-se, na mediunidade
escrevente, pela obstinação de um Espírito em se manifestar, com
exclusão de todos os outros.
Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da
inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles
desenvolvem faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços
neste mundo. A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da
vida, deve ser considerada prova ou expiação e como tal aceita..
Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que
tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a
obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a
um Espírito mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa
moral, tem-se de opor uma força moral. Para preservá-lo das
enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é
preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado
trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para o
livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz
indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão,
porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio.
Quase sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e
que com freqüência se radica nas relações que o obsidiado manteve com
ele em precedente existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e
n° 6.)
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e
impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos
salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora,
um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação
idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se
elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de
certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não
basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente,
ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há
superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a
autoridade.
E não é tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o
Espírito perverso a renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele
despontem o arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções
habilmente ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua
educação moral. Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um
encarnado e de converter um Espírito imperfeito.
A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a
sua situação, presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo
não se dá, quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no
tocante às qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que
este último o lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda
assistência, É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde do que a
mais violenta subjugação. (O Livro aos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)
Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem haja de atuar sobre o Espírito obsessor.
82. Prece. (Para ser dita pelo obsidiado.) - Meu Deus, permite
que os bons Espíritos me livrem do Espírito malfazejo que se ligou a
mim. Se é uma vingança que toma dos agravos que eu lhe haja feito
outrora, tu a consentes, meu Deus, para minha punição e eu sofro a
conseqüência da minha falta. Que o meu arrependimento me granjeie o teu
perdão e a minha liberdade! Mas, seja qual for o motivo, imploro para o
meu perseguidor a tua misericórdia. Digna-te de lhe mostrar o caminho do
progresso, que o desviará do pensamento de praticar o mal. Possa eu, de
meu lado, retribuindo-lhe com o bem o mal, induzi-lo a melhores
sentimentos.
Mas, também sei, ó meu Deus, que são as minhas imperfeições que me
tornam passível das influências dos Espíritos imperfeitos. Dá-me a luz
de que necessito para as reconhecer; combate, sobretudo, em mim o
orgulho que me cega com relação aos meus defeitos.
Qual não será a minha indignidade, pois que um ser malfazejo me pode subjugar!
Faze, ó meu Deus, que me sirva de lição para o futuro este golpe
desferido na minha vaidade; que ele fortifique a resolução que tomo de
me depurar pela prática do bem, da caridade e da humildade, a fim de
opor, daqui por diante, uma barreira às más influências.
Senhor, dá-me forças para suportar com paciência e resignação esta
prova. Compreendo que, como todas as outras, há de ela concorrer para o
meu adiantamento, se eu não lhe estragar o fruto com os meus queixumes,
pois me proporciona ensejo de mostrar a minha submissão e de exercitar
minha caridade para com um irmão infeliz, perdoando-lhe o mal que me
fez. (Cap. XII, nº 5 e nº 6; Cap. XXVIII, nº 15 e seguintes, 46 e 47.)
83. Prece. (Pelo obsidiado.) - Deus Onipotente, digna-te de me
dar o poder de libertar N... da influência do Espírito que o obsidia.
Se está nos teus desígnios pôr termo a essa prova, concede-me a graça de
falar com autoridade a esse Espírito.
Bons Espíritos que me assistis e tu, seu anjo guardião, dai-me o
vosso concurso; ajudai-me a livrá-lo do fluido impuro em que se acha
envolvido.
Em nome de Deus Onipotente, adjuro o Espírito malfazejo que o atormenta a que se retire.
84. Prece. (Pelo Espírito obsessor.) - Deus infinitamente bom,
a tua misericórdia imploro para o Espírito que obsidia N... Faze-lhe
entrever as divinas claridades, a fim de que reconheça falso o caminho
por onde enveredou. Bons Espíritos, ajudai-me a fazer-lhe compreender
que ele tudo tem a perder, praticando o mal, e tudo a ganhar, fazendo o
bem.
Espírito que te comprazes em atormentar N..., escuta-me, pois que te falo em nome de Deus.
Se quiseres refletir, compreenderás que o mal nunca sobrepujará o bem
e que não podes ser mais forte do que Deus e os bons Espíritos.
Possível lhes fora preservar N... dos teus ataques; se não o fizeram,
foi porque ele (ou ela) tinha de passar por uma prova. Mas, quando essa
prova chegar a seu termo, toda ação sobre tua vitima te será vedada. O
mal que lhe houveres feito, em vez de prejudicá-la, terá contribuído
para o seu adiantamento e para torná-la por isso mais feliz. Assim, a
tua maldade tê-la-ás empregado em pura perda e se voltará contra ti.
Deus, que é Todo-Poderoso, e os Espíritos superiores, seus delegados,
mais poderosos do que tu, serão capazes de pôr fim a essa obsessão e a
tua tenacidade se quebrará de encontro a essa autoridade suprema. Mas,
por isso mesmo que é bom, quer Deus deixar-te o mérito de fazeres que
ela cesse pela tua própria vontade. E uma mora que te concede; se não a
aproveitares, sofrer-lhe-ás as deploráveis conseqüências. Grandes
castigos e cruéis sofrimentos te esperarão. Serás forçado a suplicar a
piedade e as preces da tua vítima, que já te perdoa e ora por ti, o que
constitui grande merecimento aos olhos de Deus e apressará a libertação
dela.
Reflete, pois, enquanto ainda é tempo, visto que a justiça de Deus
cairá sobre ti, como sobre todos os Espíritos rebeldes. Pondera que o
mal que neste momento praticas terá forçosamente um limite, ao passo
que, se persistires na tua obstinação, aumentarão de contínuo os teus
sofrimentos.
Quando estavas na Terra, não terias considerado estúpido sacrificar
um grande bem por uma pequena satisfação de momento? O mesmo acontece
agora, quando és Espírito. Que ganhas com o que fazes? O triste prazer
de atormentar alguém, o que não obsta a que sejas desgraçado, digas o
que disseres, e que te tornes ainda mais desgraçado.
A par disso, vê o que perdes; observa os bons Espíritos que te cercam
e dize se não é preferível à tua a sorte deles. Da felicidade de que
gozam, também tu partilharás, quando o quiseres. Que é preciso para
isso? Implorar a Deus e fazer, em vez do mal, o bem. Sei que não te
podes transformar repentinamente; mas, Deus não exige o impossível; quer
apenas a boa-vontade. Experimenta e nós te ajudaremos. Faze que em
breve possamos dizer em teu favor a prece pelos Espíritos penitentes (nº
73) e não mais considerar-te entre os maus Espíritos, enquanto te não
contes entre os bons.
(Veja-se também, atrás, o nº 75: "Preces pelos Espíritos endurecidos".)
Observação. - A cura das obsessões graves requer
muita paciência, perseverança e devotamento. Exige também tato e
habilidade, a fim de encaminhar para o bem Espíritos muitas vezes
perversos, endurecidos e astuciosos, porquanto há-os rebeldes ao
extremo. Na maioria dos casos, temos de nos guiar pelas circunstâncias.
Qualquer que seja, porém, o caráter do Espírito, nada se obtém, é isto
um fato incontestável pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda
influência reside no ascendente moral. Outra verdade igualmente
comprovada pela experiência tanto quanto pela lógica, é a completa
ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos,
talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer sinais materiais.
A obsessão muito prolongada pode ocasionar
desordens patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou
consecutivo, quer magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do
organismo. Destruída a causa, resta combater os efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII - "Da obsessão". - Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865: exemplos de curas de obsessões.)
SÉRGIO PEREIRA/KAJAIDE
ORIENTADOR ESPIRITUAL
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