Sàngó
Sérgio
Pereira
Kawó kabiyèsílé! –“Venham ver o Rei descer
sobre a terra!” ou “Salve a Vossa Majestade na terra!”
A Nação Nagô religiosa
aqui no Brasil está em festa nestes dois dias (29 e 30) finais de Setembro, ou
melhor, todo este mês é dedicado a SÀNGÓ (SÒNGÓ) o Rei de Oyó.
Talvez estejamos diante
do Orisá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro
deus iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras. É, portanto, o
principal tronco dos candomblés do Brasil. Sàngó é o rei das pedreiras, Senhor
dos coriscos e do trovão, da justiça e da política. Traz consigo na sua
egrégora as virtudes de guerreiro, bravo e conquistador.
Sàngó também é conhecido
como o Orisá mais vaidoso, entre os deuses masculinos africanos. É monarca por
natureza e chamado pelo termo Oba, que significa rei ou senhor.
E é o Orisá que reina em
Oyó, na Nigéria, antiga capital política daquele país. No dia a dia encontramos
Sàngó nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, nas lideranças de sindicatos
e assemelhados, nas campanhas políticas, enfim, em tudo que gera habilidade no
trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral. Sàngó é a
ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. Também é a rigidez, a
organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso cultural e
social, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer. Sàngó é a capacidade de
organizar e pôr em prática os projetos de diferentes áreas é a reunião de
pessoas, para discutirem pontos e estratégias de trabalho. Sàngó também é o
sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das
pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Ele está presente nos
trabalhos de jornalistas, escritores, advogados, juízes, promotores, delegados,
investigadores, deputados, senadores, vereadores, sindicalistas, líderes
comunitários, administradores, etc. É o líder, o monarca, o reformador.
A natureza
Sàngó também é representada pela pedreira. É a
pedra – seja ela qual for – a rocha, o fogo interior da terra. É a lava do
vulcão e é o próprio vulcão. Está presente em todos os lugares rochosos e
arenosos e também muito ligado ao calor do sol. É o justiceiro da Natureza,
aquele que harmonizar o que foi desarmonizado que erroneamente o povo entende
como castigo É da força desse Orisá que
se entende – “O BEM COM MUITO BEM SE PAGA, O MAL COM MUITA JUSTIÇA SE PAGA”.
Sàngó está presente em muitos momentos importantes de nossas vidas, como, por
exemplo: na assinatura de contratos e distratos, nos telegramas, nas leis e
decretos, na confecção de códigos, livros, almanaques, dicionários, nas
decisões judiciais, na voz da prisão, na autoridade do professor, do policial,
do juiz, do pai ou da mãe, tio, avô, irmão mais velho ou responsável. Sàngó é a
atitude digna, a fortaleza, a decisão final.
Ainda na natureza
encontramos Sàngó no ribombar dos trovões, pois ali está sua voz. Sentimos sua
presença nos raios e trovões das grandes tempestades, situações que, por sinal,
são também regidas por Iansã.
Como
tudo que acontece no universo, também as práticas religiosas sofrem avanços
modernos se adaptando aos avanços da Ciência e evolução da raça humana. Sem
perder as bases sólidas da fundamentação das raízes, tradição, cultura e
religiosidade o culto aos Orisás vai progredindo em uma nova visão e
entendimento do sentido de suas práticas, aparando as arestas da fantasia, da superstição
e da ignorância. Dentro desta ótica encontramos os jovens adeptos do Candomblé
e da Umbanda se colocando dentro desta vanguarda evolutiva e ai está à presença
de Sàngó. É bom lembrar que todos os Orisás se subdividem em várias “qualidades”
que vão se diferenciar em seus arquétipos. Neste caso, particularmente, temos:
ALUFAN: É idêntico a um Airá. Confundido
com Oxalufan. Veste branco e suas ferramentas são prateadas.
ALAFIM: É o dono do palácio real,
governante de Oyó. Ligado a Oxaguian.
AFONJÁ: É o dono do talismã mágico
dado por Oyá a mando de Obatalá;Come com Yemanjá sua mãe. Patrono de um dos terreiros
mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô da casa real
de Oyó.
AGANJU: Veste marrom, Xangô
guerreiro, feiticeiro, estreita ligação com Yemanjá e os Ogbonis
AGODO: Aquele que usa dois
Oxês.Veste marrom, ligado a Yemanjá.
BARÚ: Veste-se de marrom/preto.
Ligação com Yemanjá em Tapá e Exú, o único que não pode
comer amalá
OBAIN: veste-se marron e ligado a
Oyá
ORANFÉ: É o justiceiro, reto e
impiedoso, que mora na cidade de ifé.
OBALUBÉ: è o grande rei, ligado a Oba,
Oxun e Oyá.
OS SÀNGÓS AIRÁS
Aqui se abre um capitulo a parte, pois os Airás são mais
velhos, fazem parte da família real da dinastia Ifé/Oyó, suas contas são
brancas rajadas de vermelho ou marron.
AIRÁ INTILÈ: Veste
branco/azul claro, aquele que carrega Lufan nas costas
AIRÁ IGBONAM: É
considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho
de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança sempre
acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das
fogueiras.
AIRÁ MODÉ: É o eterno companheiro de
Oxaguiã, só veste branco e não come dendê (só um pingo) sua conta leva seguí.
AIRÁ ADJAOSÍ: Velho
guerreiro, veste branco, ligado a Yemanjá.
Poderemos encontrar vários nomes/títulos ainda para o
mesmo Xangô: Olorokè; Jakutá; Dadá; Ajaká; Oronian; Orugã; Baáyanì seria
seu irmão e um quinto Airá chamado Detá.
Aqui outro parenteses tem que ser aberto pelo fato de se
tratar de AXABÓ, um Orixá feminino da família de Sàngó,- Cultuada nas grandes
casas matrizes baianas, Orisá pouco conhecido pelos não iniciados. No entanto,
está eternizada numa bela escultura do famoso artista Caribé.
As principais datas que se encontram as homenagens ao
ORISÁ SÀNGÓ é 29 de junho, 29 e 30 de setembro. Mas é claro que ele sempre pode
ser homenageado em qualquer tempo do ano, e isso segue as datas em que o
iniciado fez a “feitura”, “assentamento” de seu Orisá.
Sérgio Pereira
Orientador Espiritual
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