domingo, 18 de setembro de 2011

Manuscritos de Nag Hammadi; Evangelho de Tomé; Maria de Magdala; Jesus Cristo: Homem, Deus ou Mito?




Manuscritos de Nag Hammadi; Evangelho de Tomé; Maria de Magdala; Jesus Cristo: Homem, Deus ou Mito?

O "Acaso" tem sido o grande fornecedor dos "Documentos Patrimônio da Humanidade" e alguns sentem a tentação de denominá-lo de : "Intervenção Divina" ou "Mão do Destino" ocorrida no tempo exato, para "dar a Cesar o que é de Cesar". - " Os textos de Nag Hammadi reabrem questões fundamentais". - Elaine Pagels.



Descobrindo os Manuscritos

O sítio arqueológico de Jabal al-Tarif, Egito, é uma montanha repleta de cavernas (150) usadas como túmulos que foram escavados e pintados na Sexta dinastia há 4300 anos, perto da cidade de Nag Hammadi. O camponês Muhammad Ali al-Salmman e seus irmãos, escavavam o local buscando terra macia e fértil para as suas plantações e, de repente, bateram num pote vermelho de cerâmica, com quase um metro de altura. Supersticioso, Muhammad temeu quebrar o pote, não estaria escondido ali um jinn, um espírito malévolo?



A cobiça foi mais forte: e se ali houvesse ouro? E o pote foi quebrado e dos seus pedaços surgiram treze livros de papiro encadernados em couro. Estes códices são o marco I da "História do Livro", na "História da Humanidade". Desapontado, Ali carregou a sua "decepção" e a jogou num monte de palha perto do fogão da sua casa. Alguns dos papiros foram usados por sua mãe para atiçar o fogo. Em seguida, Muhammad Ali consumou uma vingança, assassinando o matador do seu pai e temeu a polícia. Já intrigado, supondo o valor do seu achado que jazia junto com a palha do fogão, o camponês pediu asilo para o seu achado ao sacerdote al-Qummes Basilius Abd al-Masih. Lá, o código foi descoberto por um professor de História, Raghib, quem suspeitou de que encontrara um tesouro. E os códices conheceram um verdadeiro projeto de confiscos, contrabandos e turismo, indo, finalmente, aportar nos Estados Unidos(grande parte do Códice III). A parte confiscada, dez e meio dos treze livros, ficou no Museu Copta do Cairo. Os Códices "americanos" foram adquiridos pela "Fundação Jung - Zurique - por intermediação do professor Gilles Quispel.

Quispel partiu para o Cairo, em busca do material que faltava nos códices adquiridos pela "Fundação" do psicanalista Carl G. Jung. De posse do documento, em estado de estupefação e incredulidade, decifrou ocódice: - "Essas são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu, e que seu gêmeo, Judas Tomé, anotou". Ao contrário dos Evangelhos do Novo Testamento, esse evangelho surgia como sendo um registro autêntico dos ensinamentos de Jesus e se apresentava como um Evangelho Secreto. Continha passagens do Novo Testamento, entretanto, sob outra luz e outras dimensões. Quispel observou que Jesus, o Vivente, empregava verdadeiros koans, extremamente enigmáticos:



Jesus disse: "Se manifestarem aquilo que têm em si,

Isso que manifestam os salvará. Se não manifestarem

O que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá".



Talvez seja esta a razão de alguns teólogos, como Holger Kersten, afirmarem que o cristianismo tem raízes budistas.

O Segundo Tratado do Grande Seth (VII,2)

Cristo ressuscitou? História ou símbolo?



Eles me viram e me infligiram castigo,(mas) era outro, seu pai. A-

aquele que bebeu o fel e o vinagre não era Eu. Eles me flagelaram

com o caniço, (mas era) outro. Aquele que carregou a cruz em suas

costas era Simão. Foi outro que recebeu a coroa de espinhos. Quan-

to a mim, Eu me rejubilava nas alturas, acima de todo o im-

pério dos arcontes e da semente de seu erro (e) de sua glória vã

e zombava de seu erro (p.55,9-56,19).

"Jesus Cristo ressuscitou. Com essa proclamação nasceu a igreja cristã". - Elaine Pagels. Este é um dos problemas mais polêmicos dos textos de Nag Hammadi, se não for o mais polêmico de todos. - "A primeira parte (p.49,10 - 59,18) insiste no simulacro da paixão (interpretação docetista) e ataca o dogma realista da Grande Igreja. A segunda parte (p.59,19 - 70,10) prolonga a polêmica e denuncia na Grande Igreja a pretensão de encarnar a verdadeira Igreja". - Jean D. Dubois e R. Kuntzmann. Elaine Pagels diz que acredita que a Ressurreição de Jesus seja, talvez, o próprio fundamento do cristianismo e atesta que - "Certamente é o mais radical: o cristianismo insiste que, num momento histórico, único e singular, o ciclo inverteu-se e um homem morto voltou à vida". - Outros especialista encaram a polêmica sob o ponto de vista "espiritual" e todos concluem que é necessário saber: Quem ressuscitou Jesus? Ele próprio? Deus? Se a resposta for, ele próprio, isto representará a sua vitória sobre a morte e abrirá, com este fato, o acesso para a ressurreição espiritual.

Segundo a célebre especialista Elaine Pagels, alguns ministros, teólogos e estudiosos começaram a contestar a ressurreição literal de Jesus, ressaltando a atração psicológica que ela exerce sobre as nossas esperanças e medos mais profundos. São Paulo admitia a ressurreição "material" de Jesus, entretanto, estes especialistas citados acima lembram que Paulo viu Jesus como espírito e não com o seu corpo carnal. Seus acompanhantes não viram ninguém, apenas "uma voz" (Testemunho da Verdade 45: - 48:18, in NHL. 117). Apesar de, a princípio, defender a materialidade da ressurreição, Paulo concluiu: "Digo-lhes, irmãos, a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção (i.e. o corpo mortal) herdar a incorruptibilidade". Entretanto diz Pagels:

" A cristandade ortodoxa, ferrenhamente, continuou crendo na "Ressurreição da Carne". -



Os gnósticos acreditavam com o "Tratado da Ressurreição", que o Cristo ressurrecto sofrera uma Transfiguração, não seria um corpo de carne e sim um corpo "Transfigurado". Um mestre gnóstico no "Tratado da Ressurreição" de Nag Hammadi define - "Não suponha que a ressurreição seja uma aparição (phantasia - fantasia), é algo real. Deveríamos sustentar, ao invés, que o mundo é uma aparição - e não uma ressurreição". Tertuliano dizia que era preciso "crer" na Ressurreição, - "porque é absurdo!"

Esta questão ainda não está finda. Os especialistas andam às voltas com uma importante especulação à respeito: "Esta doutrina se presta ou não, a uma função política essencial? - O consenso é o de que ela legitima a autoridade de certos homens que, como sucessores de Pedro, reivindicam a liderança das Igrejas. - Do século II em diante, essa doutrina serviu para validar a sucessão apostólica dos bispos - que é o fundamento da autoridade papal até os dias de hoje. Os cristãos gnósticos que interpretam a ressurreição de outras maneiras diferentes das dos ortodoxos, são denunciados como hereges". - (Elaine Pagels).



Raymond Kuntzmann e Jean Daniel Dubois, especialistas em escritos gnósticos, esclarecem que Jesus se oculta atrás do Grande Seth - "e são numerosas as referências neotestamentárias" - a crucificação reflete o pensamento gnóstico e concluem - "É a gnose quem salva; o Antigo Testamento e particularmente o seu Deus são tidos como fundamentalmente maus: o Novo Testamento é bom, e, finalmente, a crucifixão consiste na substituição de Jesus por Simão Cirineu". Kuntzmann - Dubois.



"Vocês sabem que aqueles que governam nações dominam

e que seus grandes homens as tiranizam. Não seja assim entre

vocês. Antes, quem quiser ser grande, que saiba servir; e quem

quiser ser o primeiro, que seja o servo de todos". Palavras de Jesus a Tiago e João. Manuscritos de Nag Hammadi.



Evangelho de Felipe (II,3)

Elaine Pagels, ressalta o texto que ridiculariza os cristãos ortodoxos, como se fossem ignorantes, por acreditarem na Ressurreição literalmente. - "É necessário receber a ressurreição enquanto vivem". - Nag Hammadi. Kuntzmann e Dubois escolheram o texto que se refere à Maria Madalena - " O círculo que cerca Jesus simboliza a comunidade perfeita dos pneumáticos (os gnósticos, os espirituais) particularmente Maria Madalena, da qual o "Evangelho de Maria" diz (p.18,13 - 15):

"O Salvador a conheceu de modo indefectível. Por isso ele a amou mais do que a nós".

Outros especialistas acham sugestiva a palavra conheceu devido à conotação bíblica desta palavra.



(Havia) três (que) andavam sempre com o Senhor: Maria, sua

mãe, sua irmã e Madalena, que era chamada sua companheira

pois Maria é sua irmã, sua mãe e sua companheira (p.59,6 - 11)

Elaine Pagels se manifesta a respeito do que diz Felipe sobre Madalena: - " O Evangelho de Felipe continha um perfil do Jesus histórico muito diferente daquele que é retratado no Novo Testamento" - Elaine Pagels referia-se:

... a que acompanha (o Salvador é) Maria Madalena. (Mas Cristo amava-a) mais que (todos) os discípulos, e costumava beijá-la(freqüentemente) nos lábios. Os outros (discípulos ofenderam-se)... e disseram-lhe: "Por que tu a amas mais que a todos nós?"

O Salvador respondeu e disse-lhes: "Porque eu não os amo como(amo) a ela?... Grande é o mistério do casamento - sem ele o mundo

não existiria. Agora, a existência do mundo depende do homem e a existência do homem do casamento". Evangelho de Felipe.

A teóloga australiana Barbara Thiering (Jesus, the man) afirma que Jesus era casado com Maria Madalena. A festa de noivado seria "As Bodas de Caná", uma das provas deste casamento (segundo os ritos de então). O episódio é apenas narrado por João. Se ali aconteceu o primeiro "milagre" de Jesus, porque os outros evangelistas ignoraram "As Bodas de Caná"? Há a lembrança de que os servos dirigiram-se à Maria, mãe de Jesus, para reclamarem o vinho e não à uma outra pessoa, o "dono da festa", o que seria normal? A dra. Thiering explana e esclarece esta e outras questões mais profundas no seu livro: "Jesus, the man".



O Evangelho de Maria (Madalena) (Papiro 8.502) do Códice de Berlim



Data: fins do século II / Princípios do século III.

Maria Madalena era grandemente admirada pelos gnósticos que chamavam-na de - a companheira de Jesus -. Maria Madalena e não Maria, mãe de Jesus, é quem serve de medianeira do Mestre e era para ela que Jesus reservava, muitas vezes, os seus ensinamentos mais secretos.



"Os discípulos são consolados pelas palavras de Maria Madalena, a quem o Salvador havia transmitido revelações particulares. Maria Madalena serve de intermediária para a transmissão das palavras do Senhor". - (p.9,20)

Elaine Pagels pergunta: "Qual o elo entre o pequeno grupo que se reuniu em torno de Jesus e a organização de âmbito mundial que, nos 170 anos após a sua morte, desenvolveu-se numa hierarquia de três níveis composta de bispos, padres e diáconos?"

O especialista Haus Von Copenhausen responde: "Pedro foi o primeiro para quem Jesus apareceu depois da ressurreição, o primeiro líder cristão".

Elaine Pagels refuta, com o Novo Testamento nas mãos: "Marcos e João afirmam que Maria Madalena e não Pedro, foi a primeira testemunha da Ressurreição". As igrejas ortodoxas decidiram a favor de Pedro, discriminando outros testemunhos fora o dos apóstolos. Lucas fala sobre os testemunhos "oficiais". Elaine Pagels opina: - " O título do Evangelho de Maria sugere que sua revelação proveio de uma comunicação íntima e direta com o Salvador. A alusão a uma relação erótica entre Jesus e Maria Madalena pode ser um indício de comunhão mística; através da história, místicos de diversas tradições empregaram metáforas sexuais para descreverem suas experiências". -

Maria Madalena (que, segundo os especialistas, jamais foi uma prostituta e sim uma injustiçada), no "Evangelho de Maria" consola os apóstolos, contando-lhes as suas "visões" de Jesus dizendo-lhes que ele lhe passara, na mente, as palavras de conforto.

Para os gnósticos, Madalena era a sua própria representação. Jesus foi "visionado", também, por: João (apócrifo de João), Pedro (a epístola de Pedro a Felipe), Felipe (o Evangelho de Felipe). E Tomé (o Evangelho de Tomé) - textos dos Manuscritos de Nag Hammadi.

Jesus lhes apareceu como luz, criança, imagem de múltiplas formas, um grande anjo de luz. Nesta última visão "A Sabedoria de Jesus Cristo" (Nag Hammadi) Ele disse aos apóstolos que iria ensinar-lhes "os mistérios do plano divino" para o universo e o seu destino - "Cada pessoa reconhece o Senhor da sua própria maneira, nem todas iguais". Teódoto.

O Evangelho de Maria conta as "palavras secretas de Jesus e ela é a intermediária do Senhor: (p.9,20 - 10,8)



Pedro disse a Maria: "Irmã, nós sabemos que o Salvador

Te amou mais do que a todas as outras mulheres. Diz-nos

As palavras do Senhor de que te lembras, que tu conheces,

Mas que nós não conhecemos ou não ouvimos! Respondendo,

Disse Maria: "Eu vos anunciarei aquilo que está oculto de vós".



Maria comenta - "onde está o intelecto, aí está o tesouro" (ef.Mt. 6,21) ( Lc 12,34) e - " descreve a ascensão da alma e a sua passagem pelos diversos céus até a eternidade." -



O "Evangelho de Felipe" fala, cruamente, do ciúme e da rivalidade entre os discípulos e Maria Madalena, a pessoa mais próxima de Jesus e símbolo da sabedoria divina, Sofia. "O diálogo do Salvador inclui Madalena entre os três discípulos escolhidos para os seus ensinamentos especiais e a exalta sobre os outros dois: Tomé e Mateus: - "ela falou como uma mulher que conhecia o TODO". - "Os cristãos ortodoxos afligiam-se com o posto ocupado por Maria Madalena junto a Jesus, pois consideravam Pedro seu representante maior": "Pedro, você foi sempre irascível. Se o Salvador a considerou digna, quem é você para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhecia muito bem. Por isso amava-a mais que a nós", disse Levi. Os cristãos ortodoxos, comenta Elaine Pagels, com as suas epístolas e diálogos supostamente "apostólicos", afirmam o oposto. Mas Jesus, à uma queixa de Maria Madalena sobre o constrangimento que sentia diante do enciumado Pedro, que se julgava digno de toda a prioridade, e quem odiava "a espécie feminina" (Maria Madalena), encerrou a questão: "Aquele que o Espírito inspirar recebe ordenação divina para falar, seja homem ou mulher." -



O Evangelho de Tomé - códice II de Hag Hammadi

(Algumas sentenças)



Eis as palavras secretas ditas por Jesus, o Vivente, escritas por Judas Tomé, o Gêmeo.

- E ele disse: "Aquele que encontrar a interpretação destas palavras não provará a morte".



- Jesus disse: "Se aqueles que vos guiam dizem 'Eis, o Reino está no céu', então, os pássaros do céu vos ultrapassarão; se eles vos dizem que está mar, então os peixes vos ultrapassarão. Pois bem, o Reino está em vosso interior, mas também está em vosso exterior. Quando vós vos conhecerdes, então series conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivente. Mas se vós não vos conheceis, então estareis na pobreza e sereis a própria pobreza".



- Jesus disse: "O ancião carregado de anos não hesitará em interrogar uma criança de sete dias a propósito do Lugar da Vida. E viverá, pois muitos dos primeiros serão os últimos e se tornarão um só".





- Jesus disse: "Conhece o que (ou 'aquele' que) está diante de ti e aquele (ou 'o que') que se te ocultava te será desvelado, pois não há nada de oculto que não se manifeste".

- Jesus disse: Feliz do leão que o homem comer, pois o leão tornar-se-á

homem; maldito o homem que o leão comer, pois o leão tornar-se-á

homem".

- Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos a que se assemelha o Reino dos céus". Ele lhes disse. "Ele se assemelha a um grão de mostarda, a menor de todas as sementes. Mas, quando cai em terra cultivada, dá grande ramo e torna-se refúgio para os pássaros do céu".



- Jesus disse: "Eu vos escolherei para vós um entre mil e dois entre dez mil e eles se manterão solitários".

- Jesus disse: "Ama a teu irmão como à tua alma; vela por ele como pela menina dos teus olhos".

- Jesus disse; "Tu vês o argueiro que há no olho de teu irmão, mas não vês a trave que está em teu olho; quando retirares a trave de teu olho, então poderás ver para retirar o argueiro do olho de teu irmão".



- Jesus disse: "Cidade edificada sobre a montanha elevada e fortificada não pode cair nem pode permanecer oculta".

- Jesus disse: "Eu digo meus mistérios aos que são (dignos) de meus mistérios. Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita".



O Evangelho de Verdade é uma alegria para aqueles que receberam do Pai da verdade a graça de conhecê-lo... Pois ele os descobriu em si, e eles o descobriram em si, o incompreensível, o inconcebível, o Pai, o ente Perfeito, aquele que fez todas as coisas.



A Hipótese dos Arcontes (11,4) :

(ou a Realidade dos Governantes ou ainda a substância do Soberanos)



Vocabulário gnóstico: Arconte = Força dos Cosmos, no singular, o Grande Arconte, demiurgo e senhor do mundo inferior. No plural = o círculo que cerca o demiurgo ou os planetas.

A Hipótese dos Arcontes (11,4) diz respeito à Política do Monoteísmo em duas revelações sucessivas por parte dos anjos: o Gênesis gnóstico 1-6. Alguns estudiosos sugerem que o "Credo" foi originalmente formulado para excluir os seguidores do herege Márcion das igrejas ortodoxas. Qual foi a heresia de Márcion? Márcion, cristão da Ásia Menor, viu um contraste entre o Deus do Antigo Testamento e o do Novo Testamento. O primeiro, um Deus criador justiceiro e punitivo, criador, também, do sofrimento, dor doença - e até pernilongos e escorpiões. - O Deus do Novo Testamento era Amor e Perdão. Dois deuses diferentes? Chamaram-no "dualista" e Irineu, mais tarde, objetava que os gnósticos eram dualistas como os marcionistas acreditavam que - "há outro Deus além do criador". - Alguns dos textos de Nag Hammadi demonstram este fato: "é ago... (por causa do seu) poder, da sua ignorância e (da sua) arrogância, ele disse...(Eu sou Deus, e não há (outro além de mim)". Dizendo isso pecou contra (a Inteireza). E do alto, de além do domínio do poder absoluto, veio uma voz dizendo, "Estás enganado, Samael, que quer dizer "deus dos cegos". (A voz de Sofia = Sabedoria).

No Apocryphon de João:

Na sua insânia... disse, "Eu sou Deus, e não há outro além de mim - pois ele ignora... o lugar de onde veio... e quando viu a criação que o circunda, e quando viu ao seu redor a multidão de anjos que dele vieram, disse-lhes, "Eu sou um Deus cioso e não há outro Deus que não eu". Porém, proclamando isso, indicou aos anjos que existe outro Deus; pois se não houvesse outro, de quem teria ciúmes?"



No episódio do Eden, os manuscritos, novamente, definem este "Deus ciumento e tirano" e a resistência de Adão e Eva ao seu jugo, com o auxílio da serpente - o iniciador - na antigüidade, símbolo da sabedoria divina. Paranomasia do especialista Birger Pearson, em aramaico, associando a serpente - Instrutor - (serpente = hewya = instruir, hawa = Eva).

...Deus deu (uma ordem) a Adão, "De toda árvore você poderá

comer (mas) não da árvore que está no meio do Paraíso; pois no dia em

que comer, certamente morrerá". Mas a serpente, o mais sábio de todos os

animais, persuadiu Eva dizendo, "No dia em que você comer da árvore

os olhos da sua mente se abrirão. Eva obedeceu e comeu e deu

também a seu marido".

Os textos prosseguem e o escriba pergunta:

"Mas que espécie de Deus é esse? Primeiro, fez Adão cobiçar comer da árvore do conhecimento... Sem dúvida mostrou-se invejoso e malévolo".



Em contrapartida às teses de heresia dos gnósticos, citadas por Irineu, os Manuscritos de Nag Hammadi respondem com as palavras de Constantino - "Há uma gnose monadária" - e com o célebre gnóstico Valentino, no - Tratado Tripartido - (Tripartite)

Tratado Tripartite (1,5)



Códice Jung - O Evangelho de Verdade (1,3) atribuído a Valentino



O mais poético dos Manuscritos.

Eu sou um filho vindo do Pai - o Pai que é pré-existente...

Meu ser vem Daquele que é pré-existente, e eu retorno ao

Meu próprio lugar, o lugar de onde vim.

Elaine Pagels pergunta: "Como reagiria Valentino e seus iniciados às afirmações de Constantino de que o bispo exerce autoridade sobre a comunidade "como Deus no céu - isto é, enquanto amo, rei, juiz e senhor?" Ela mesma responde por eles: - Você alega representar Deus mas, na realidade, representa o demiurgo, a quem serve e obedece cegamente. Eu, no entanto, já ultrapassei a esfera do demiurgo - e, portanto, a sua também!" -

A "Gnose" é a experiência Direta e sem Intermediação: de Deus/Princípio Último, o Uno.

" O iniciado gnóstico tem uma justificação teológica para a desobediência aos bispos e padres, passam a ver os bispos e os padres como os "governantes e potestades" que presidem na terra em nome do demiurgo". E. Pagels.

Esta idiossincrasia, descrita no "Evangelho de Verdade" é estendida a este manuscrito:

Outros... que não dos nossos... denominam-se bispos e

Também diáconos, como se houvessem recebido sua autoridade

De Deus... Essas pessoas são canais sem água. (Um seguidor de Valentino)

"Valentino emprega o mesmo termo que Platão empregara para "criador" (demiurgo), indicando que se trata de um ser divino menor que serve como instrumento de poderes superiores" - o demiurgo, em resumo, é o "Deus de Israel" - E. Pagels. No seu "Apocalipse" Pedro tem três visões, explicadas pelo próprio Salvador, tal como esclarece o anjo intérprete do Apocalipse de João (cf. Ap 17, por ex.). O docetismo é patente: o Salvador nunca sofreu sobre a cruz. Na Segunda visão há a distinção entre sua aparência carnal e externa, crucificada, e a real, superior incorpórea. Enquanto os adversários zombam dele e acreditam que o estão crucificando, Jesus, o Vivente, pode zombar deles.



O Segundo Tratado do Grande Seth

De quem é a "Verdadeira Igreja"? "Durante 2000 anos, cristãos de todas as tradições preservaram e veneraram escritos ortodoxos denunciando os gnósticos enquanto suprimiam e destruíam os documentos gnósticos em si". Elaine Pagels.

Nag Hammadi deu o troco e revelou o outro lado da moeda, falando em nome dos "Filhos da Luz": os gnósticos. O Grande Seth - o Salvador - Jesus explica: "Tais pessoas criaram imitação da verdadeira igreja - "divulgando mentiras e proclamando a doutrina de um homem morto, pretendem assemelhar-se à liberdade e à pureza da Igreja Perfeita (ekklesia). Tais ensinamentos, prossegue ele na sua denúncia, levam aqueles que os seguem a se resignarem diante do medo e da escravidão e incentiva-os a sujeitarem-se aos representantes terrenos do criador do mundo que, em sua "glória vã", declarou: "Eu sou Deus, e não há outro além de mim." - E. Pagels.

"O Evangelho de Tomé" e o Livro de Tomé, o Contendor (atribuído ao "irmão gêmeo" de Jesus)



"Talvez sugiram que ele, o leitor, é esse gêmeo" - E. Pagels. Seria gêmeo no sentido do "eu" espiritual? É a dúvida levantada por Pagels.

'Outros estudiosos, como Helmet Koester, professor da escola de Teologia da Universidade de Harvard, no Programa "Jesus the evidence", já citado em outro texto deste jornal, discorda deste simbolismo. Diante das câmeras de televisão, afirmou que é quase certa a irmandade carnal de Judas Tomé com Jesus, "restam poucas dúvidas a respeito deste fato". Por sua vez, Tomé não é um nome próprio bem como Dídimo (Tomé o Dídimo), não é sobrenome. Ambas as palavras significam a mesma coisa: Gêmeo. A irmandade de Jesus, segundo alguns autores, era conhecida na antigüidade, sendo Tiago, também, um dos irmãos carnais de Jesus, tudo muito bem explicitado em alguns trechos do Novo Testamento e no Apócrifos: quatro irmãos e duas irmãs, citados os seus nomes: Judas (Tomé), Josefos, Tiago, Simão, Lísia e Lídia.



"O Apocalipse de Pedro" (VII,3)

"O docetismo é patente: o Salvador nunca sofreu sobre a cruz" - Kuntzmann e Dubois. E prosseguem: "O mito gnóstico mais geral de um Salvador que veio salvar as centelhas de luz caídas na matéria serve de fundo a essas meditações sobre Cristo, Salvador cristão, passando por semelhante de carne e zombando daqueles que se enganam a seu respeito, considerando-o como realmente encarnado". O Apocalipse de Pedro dá margens à celeumas entre os especialistas: desalentado, o apóstolo ouve que "muitos fiéis incorrerão num nome errado" e "serão governados hereticamente". Cristo ressuscitado explica a Pedro que: "aqueles que se nomeiam bispos, e também diácono, como se tivessem recebido sua autoridade de Deus", são na realidade, "canais sem água". Embora "não compreendam o mistério, afirmam que o mistério da Verdade pertence somente a eles". O autor prossegue invectivando, a interpretação errônea dos ensinamentos dos apóstolos, que gerou um "simulacro de igreja" no lugar da verdadeira "fraternidade cristã".

Outro aspecto relevante nos Manuscritos de Nag Hammadi é o referente às mulheres. Jesus as incluiu no seu círculo e mantinha Maria Madalena cercada por deferência especial. O Evangelho de Felipe e o Diálogo do Salvador fazem menção específica: no primeiro, Felipe fala sobre Maria Madalena, o símbolo da sabedoria divina e no Diálogo do Salvador, Madalena surge entre os três discípulos que recebiam ensinamentos especiais.

Elaine Pagels expõe: "Hoje um número crescente de pessoas não consegue se ater somente à autoridade das Escrituras, dos apóstolos, da igreja - ao menos não sem indagarem como essa autoridade se constituiu e o que lhe confere legitimidade, se é que algo lhe confere essa autoridade. Todas as velhas perguntas estão sendo feitas novamente. - Como devemos entender a ressurreição? E o que dizer de mulheres exercendo funções sacerdotais e episcopais? Quem foi Cristo, e como ele se relaciona com o que nele crê? Quais são as semelhanças entre o cristianismo e as outras religiões do mundo?

Elaine Pagels termina o seu livro: "Hoje nós os lemos com olhos diferentes, não como mera "loucura e blasfêmia", mas como os cristãos do primeiros tempos devem tê-los lido - como um vigorosa alternativa para o que conhecemos como a tradição ortodoxa. Só agora começamos a considerar as perguntas com as quais eles nos confrontam". - E.Pagels.



Você viu o espírito, e tornou-se espírito. Viu Cristo, e tornou-se

Cristo. Viu (o Pai), e tornar-se-á Pai... viu-se a si mesmo, e o que

Viu é o que haverá de (se tornar). - Nag Hammadi - Evangelho de Felipe.



"Quem alcança a gnose torna-se "não mais um cristão, mas um Cristo!"

Evangelho de Felipe - Nag Hammadi.



Platão: república, 5886-5896(VI)

Há um texto de Platão em Nag Hammadi! "Um texto de grande sucesso na antigüidade: A República". Segundo Kuntzmann e Dubois, deve ter sido conservado devido aos ensinamentos da moral que iam de encontro ao meio cristão, filosófico e hermético. Por isto faz parte do Códice VI, que aborda o tema, citando Hermes o Trismegisto (Ogdoade e Eneade) liturgia (a prece de ação de graças, o Asclépio - texto hermético).



Fontes:

"Os Evangelhos Gnósticos" - Elaine Pagels - Cultrix

Nag Hammadi - O Evangelho de Tomé - R. Kuntzmann - S. D. Dubois - ed. Paulinas

Jesus - The Man - Dra. Barbara thiering - (Austrália) citações: Dr. Geza Vermes - Sir Laurence Gardner Kt St Gm KDC "Bloodline of the Holy Grail" - Ed. Penguin Books e Element Books.

A Herança Messiânica - Michael Baigent - Richard Leigh, Henry Lincoln - Ed. Nova Fronteira

Internet: http://www.nexusmagazine. com - From lecture presented by: Sir Laurence Gardner, Kt St Gm, KCD.

 Sérgio Pereira/Kajaide
Orientador Espiritual
Ano de Ibeiji?Elegbara/Mercúrio
"Eu Penso! Eu Faço!"

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